Chefe fedido ou mau caráter?
Mais uma daquelas
histórias inusitadas e presenciadas por mim. Ela aconteceu entre 2001 e 2003.
Não me lembro bem. Ao lado da sala do Diretor de Marketing da Siemens, da
Divisão de Telecomunicações, estava a sala do CFO da organização, o Cherubin,
José Cherubin. Não sei exatamente porque ele ficava ali, naquele andar, já que
os “picas” de verdade ficavam lá pra cima, em um andar bem mais alto. Enfim,
mas isso não vem ao caso. O importante é que saibam que as nossas estruturas, a
de Marketing e a da área Financeira, ficavam concentradas em um determinado
espaço no andar, lado a lado, interagindo, inclusive, uma com a outra. Eu
sempre fui de chegar cedo ao trabalho. Na Siemens não era diferente. Sempre
cheguei muito cedo lá no prédio. Chegava cedo, mas em compensação, saía mais
tarde. Normal. Vida que levamos em São Paulo. Bom, o fato é que tinha gente que
chegava ainda mais cedo do que eu. E uma dessas pessoas era a Cássia Nestler,
que vinha de fretado, todos os dias, se não me engano, de Campinas. Para
contextualizar, a Cássia era da equipe do Cherubin. Ela era uma graça de
pessoa. Deve ser ainda. Faz tempo que não a vejo. Lembro-me bem da Cássia,
engraçado. O Cherubin também era um cara que chegava bem cedo. Ele estava
sempre lá antes de todos chegarmos. Seu time todo, se não me falha a memória,
era bem caxias. O Cherubin era um cara legal, rígido, chefe, mas do bem. Ele
era uma pessoa divertida. Sempre soltava suas pérolas no meio de reuniões de
diretoria, independentemente de quem estivesse participando delas. Só um
exemplo, ele não aguentava o termo “SALES SUPPORT”.Sempre dizia que, para ele,
“SALES SUPPORT” era “SUTIÔ. Não sei a relação que ele tinha com o idioma
inglês, mas acho que se incomodava com todos os termos, palavras, siglas,
enfim, tudo que tínhamos que falar ou escrever em inglês na Siemens. E ele
fazia as pessoas rirem com a sua simplicidade. Era uma pessoa bacana. Eu também
não me lembro de ter passado por ele e de ter sido ignorada. Ele não era de
fazer isso. Não era boçal como há tantos, povoando as empresas. Bom, numa certa
manhã, super cedo, bem cedo mesmo, eu, inclusive, já estava no andar, vejo a
cena da Cássia saindo da sala do Cherubin meio correndo, meio sem graça, com a
feição estranha. Acho até que estava enrubescida. Como ela é clara, ruiva,
branquinha...logo dava para ver quando estava corada, vermelha. E ela estava
sem graça, nitidamente, sem jeito. Saiu de lá, desse jeito, toda estranha, e
seguiu para sua mesa. Sentou-se e ficou lá por algum tempo. Instantes depois, o
Cherubin saiu de sua sala e foi ao seu encontro. Só tínhamos nós três no andar.
Lembro-me como se fosse hoje. Eu não sentava longe dela. “Cássia, disse ele:
não se sinta mal pelo que viu agora.” Caramba, pensei. O que será que ela tinha
visto? Ela, meio encabulada, não interagiu muito. Ficou olhando para ele, que
ia soltando o verbo como se estivesse falando com ela sobre algo corriqueiro,
do dia a dia do trabalho. E continuou. “O que eu estava fazendo lá dentro da
minha sala é para o bem de vocês, viu?” E esse foi o monólogo. Ela, sem graça,
disse uma palavra de reação ou outra, mas continuou ali sentada, nitidamente,
ainda em choque. Nisso, o Cherubin já tinha ido embora, de volta para sua super
sala de CFO. E eu? Eu só “precisava” saber o que ela tinha visto, então, fui
até sua mesa. “Cássia, o que houve?” E ela começou a rir. Acho que estava
precisando que alguém fizesse aquela pergunta pra ela. “Loraine, a gente passa
cada uma com o Cherubin.” “Ele é meio maluco mesmo, a gente já sabe, mas sempre
passamos por algo inesperado perto dele.” “Ele não está nem aí.” “É muito
doido.” “Eu cheguei cedo, pois, daqui a pouco, teremos que fazer uma
apresentação para o Byrro (na época, Vice-Presidente da Siemens)”. Aliás, e fui à sala dele para que fechássemos
alguns pontos dessa apresentação.” “Quando entrei, ele, nada mais, nada menos,
estava sem camisa, passando desodorante, livremente, despudorado.” “Você
acredita?” Eu pensei...ele não teve dúvidas, chegou em sua sala, deve ter se
lembrado de que não tinha passado desodorante antes de sair de casa, tirou seu terno,
sua gravata e sua camisa, pegou sua nécessaire, na qual, aliás, tinha um
desodorante, sacou o tubo e mandou ver...fez todo o processo de higienização
das axilas ali mesmo, sem se preocupar com quem, possivelmente, pudesse ver a
cena bizarra. E o pior é que alguém viu. Coitada da Cássia...teve que ser ela.
A história nem parece real. Na hora, é claro, foi uma história muito engraçada,
super hilária...eu ri muito, ri, ainda mais, depois de ter sabido da história
toda e de relembrar da simplicidade dele dizendo para ela que o que tinha feito
era para o bem da equipe. Se pensarmos bem, ele tinha razão. Ter um chefe é
algo dado, não tem jeito...sempre vamos ter que ter um, mais de um,
eventualmente, vários ao longo da vida...conviver com o chefe também é algo
dado, não tem jeito. Agora, ter que conviver com um chefe fedido? Não dá. Seria
demais, não? Se bem que, e se, eventualmente, tivéssemos escolha? E se antes de
começarmos a trabalhar em uma empresa, o RH nos desse uma lista com 16
possíveis “modelos”(alternativas) de chefes, para podermos escolher,
como “líder”, uma pessoa passível de convivência? E se nessa imensa lista
houvesse, entre outras possíveis alternativas, a seguinte composição de patrão:
chefe fedido, seguro, competente e de bom caráter? Vocês optariam por esse
modelo? Haveria outros 15, mas esse, com certeza, seria o meu escolhido. Essa
seria a minha opção. Era com o chefe fedido que eu trabalharia. Afinal, e já
tratei disso nesse meu Blog, a Osmologia. Esse estoudo nos ensina que o ser
humano se acostuma com os seus próprios odores. Se a gente se acostuma com o
nosso próprio cheiro ruim, por que não nos acostumaríamos com o CC (cheiro do
corpo) dos outros? O que não dá é para se acostumar com insegurança,
incompetência, mau-caratismo...isso não dá!!! CC é o de menos nas
organizações!!! Mesmo porque há coisas que, ao longo do
tempo, ficam com um cheiro pior do que o cheiro ruim do corpo de alguém, não é
mesmo?
Com certeza essa opção. Outras coisas podem ser mais fedidasbao longo do tempo.
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