Festa estranha, com gente esquisita!
Hoje, no meio do dia, o
Márcio Michelan nos falou sobre um filme que tinha visto, o Projeto X – UMA
FESTA FORA DE CONTROLE. Eu não assisti à película, mas enquanto ele falava
sobre o seu enredo, eu me lembrei de uma história maluca, que, é claro,
aconteceu comigo. Não sei se foi em 2000 ou 2001, mas foi na época em que eu
trabalhava na Siemens. Um expatriado alemão, o Guido Peters, veio morar no
Brasil para tocar uma das áreas do Marketing da Divisão de Telecom. Eu, na
época, trabalhava, dentro do Marketing, na área de Comunicação. O Guido veio
para São Paulo para tocar a área de BI, Business Intelligence. Lembro-me bem
dessa época. Éramos todos bem novos, cheios de gás, de pique, enfim, éramos uma
turma muito boa. O Guido, desde o início, procurou se enturmar. Ele sempre foi
um cara legal. Ele, no começo, achava tudo muito estranho por aqui. Uma das
coisas mais estranhas para ele era o fato de trabalharmos até altas horas da
noite. Ele nunca se conformou com isso. Sempre dizia que a gente passava mais
tempo tomando café do que trabalhando e era por isso que tínhamos que ficar até
mais tarde. Acho até que ele tinha razão. O brasileiro é falador, cheio de
história para contar. A gente passa horas do dia nos relacionando com quem a
gente já se relaciona. Doido isso, né? Mas faz um bem danado. Enfim, o Guido
deve ter ficado no Brasil durante uns cinco anos. No final desse período, ele
também ficava até muito tarde na empresa. Dizia que ficava até tarde para não
pegar trânsito para ir para casa...kkkkk...viu como temos outros motivos que
não só a falação? Sobretudo o morador de São Paulo. Mas ele também acabou se
casando com uma brasileira, paulistana, trabalhadora...e isso tudo deve ter
influenciado o nosso querido alemão. O convívio é algo fantástico. Uma outra
coisa que ele achava estranha era o fato de todos os taxis serem brancos. Ele
ficava indignado com isso. Dizia sempre que o branco, na Europa, era algo
chique. Na Alemanha, ele tinha uma BMW branca...aqui, com o mesmo dinheiro,
comprou um Astra branco. A gente ria muito com ele. Dizíamos que só faltava a
cruz vermelha ou o luminoso do taxi para que o carro tivesse outras funções.
Mas ele não estava nem aí, estava feliz e contente com seu carro branco. E
olhem como as coisas custam a chegar aqui no Brasil. Depois de doze anos, o
carro branco, com interior caramelo, virou uma loucura aqui no país. Chique, cool, enfim, modismo total. Guido,
Guido...você já sabia o que falava naquela época, hein? O Guido Peters sempre
foi uma pessoa querida. Nós sempre gostamos de conviver com ele, pois ele era
agradável, sempre procurava aprender sobre nós, brasileiros, conhecer nossa
cultura, adaptar-se a ela. E fez isso muito rapidamente. Eu o ajudei bastante.
Eu o ajudei a alugar o seu apartamento, a comprar os móveis, os
eletrodomésticos, etc. Não somente eu, mas todos nós o ajudávamos com alguma
coisa. Um certo dia, logo pela manhã, ele nos comunicou que faria uma festa em
seu novo apartamento, que era um duplex, bem bacana, que ficava em Pinheiros.
Disse que daria a festa para reunir a galera e para nos agradecer por tudo que
tínhamos feito por ele. Convidou todo mundo da área. Na época, éramos umas
vinte pessoas. A festa estava programada para o sábado. Acho que ele nos
avisou na segunda ou na terça. Nos falamos sobre isso a semana toda. Uma amiga
nossa, a Karin, ficou de emprestar o seu som para o Guido, para rolar uma
musiquinha básica na festinha. A esposa do Rinaldinho, que, incrivelmente,
conseguia ser menor do que ele...o que parecia ser algo impossível...ficou de
levar uma torta de morango, que só ela sabia fazer. Enfim, cada um se predispôs
a levar algo ou a ajudar com alguma coisa. E o dia da festa foi chegando.
Combinamos como iríamos...carona pra cá, pra lá...taxis, pois, com certeza,
beberíamos, enfim, uma farra. Poxa, imaginem todos nós, que já nos divertíamos
no trabalho, na casa de um amigo, em pleno sábado à noite, para uma festa íntima. Só
sairia besteira dali. E o dia da festa chegou. Eu, a Karin, que emprestou o
som, e seu marido, o Flávio, fomos os primeiros a chegar. O Guido estava lá,
ainda sozinho. Logo depois da gente, chegou o Rinaldinho e sua pequenina
esposa. Trouxeram a torta e a entregaram ao Guido, que ficou super feliz.
Colocou-a na geladeira. Uma graça. Ainda éramos apenas nós cinco e ele resolveu
nos mostrar o apartamento antes de todos chegarem. Fizemos um tour. Era um
duplex. Muito legal. Até sauna tinha no segundo andar. Descemos, fomos ver a
cozinha, a lavanderia, enfim, vimos tudo. O Flávio, marido da Karin, ligou o
som, deixou num volume plausível, para que a gente pudesse conversar. Começamos
a beber um vinho, que aliás, tinha sido levado por nós, enfim...já estava
divertido só com nós seis. De repente, a campainha toca. Era o vizinho. O
vizinho do Guido era um expatriado, se não me engano, japonês. Ele entrou, deu
um oi rápido pra gente e disse ao Guido que o apartamento dele já estava
liberado. Apartamento liberado, pensei! O que significaria aquilo? Mas passou
batido. Talvez não tivesse tanta importância. E as outras pessoas foram
chegando. Era uma mistura do resto do povo da Siemens com uma gente esquisita.
E não parava mais de chegar gente...comecei a achar a festa estranha com gente
esquisita...sabem? Nós todos, os vinte, já estávamos lá. Tentamos ficar juntos,
até quando conseguimos, pois o lugar foi ficando cheio, lotado, abarrotado,
repleto de gente muito, mas muito estranha mesmo. Os menos anormais éramos nós...e olha que entre nós já tinham uns bem esquisitos. O som, aquela
altura, estava explodindo. O Flávio e a Karin estavam possessos. Eles eram, e
ainda devem ser, claro, um casal todo bonitinho, organizadinho, fofos.
Emprestaram o som ao Guido de coração. Que dó. As caixas, de fato, explodiram
em determinado momento. Um de nós, não me lembro quem, resolveu ir entender o
que estava havendo e se a gente tinha ido para a festa correta. O Guido estava
lá, mas vai saber. E se o dia certo da nossa festa fosse outro? Sei lá.
Tava estranho. Só sei que quem foi verificar, voltou e nos disse que a festa
tava rolando nos dois apartamentos, no do Japa e no do Alemão. Tinha gente
dentro das duas saunas, dentro dos quartos, nas varandas, nas cozinhas. Vocês
não estão entendendo. Eu não vi o filme, mas era o verdadeiro Projeto X, com
certeza. A festa, ou as festas, sei lá, estava cheia de travestis, de
prostitutas, homosexuais, heterosexuais, bisexuais, tinha de tudo. Tinham até drag queens. Sério! Muito bom. Muito louco tudo
aquilo. A gente só ria. Não entendemos nada. Achávamos que a festa seria só
para a gente, para que nos reuníssemos e para que ele, o Guido, fizesse um
gesto de agradecimento ao grupo, colocando-nos todos juntos, num sabadão, para nos divertirmos. Mas, de verdade, foi isso que ele fez. Ele nos
convidou para festa, colocou-nos todos juntos e nos fez rir muito, mas muito
mesmo. Nunca fui a uma festa tão maluca. Não fosse a história da explosão das
caixas de som, de resto, tudo estava perfeito. Vimos cenas bizarras...parecia
que estávamos em outro país. A gente ia de um apartamento para o outro,
subíamos, descíamos, uns do nosso grupo se arranjaram, outros beberam até cair, enfim, fizemos
de tudo. Mas sabem aquele grupo inicial da festa, aquele grupo de cinco
pessoas, no qual eu me incluía? Estávamos mais sóbrios do que os outros e com
muita fome. Não tinha nada para comer na festa. Nem pão de metro, poxa. Só tinha muita bebida e
milhares de sacos de Ruffles. Nada consistente. Precisávamos de glicose. Foi aí
que tivemos a genial idéia de atacarmos a torta de morango. Lembram-se da torta
de morango do início da história? Pois é. Fomos para a cozinha, que estava
abarrotada, abrimos a geladeira, pegamos a torta, que estava, delicadamente,
embrulhada, e nos mandamos para a lavanderia, do apartamento matriz, o do
Guido. Incrivelmente, aquela área estava vazia. Talvez porque lá só coubessem,
no máximo, três pessoas. Mas nós éramos cinco e mais a torta. Não achamos
prato, faca, nada. Achamos uma colher em uma das gavetas. E foi com ela que atacamos a torta da Rinaldinha. Que torta boa!!! Tudo muito inusitado.
Bizarrices das nossas vidas. Histórias bacanas, que não serão esquecidas e têm
que ser compartilhadas. Sendo assim, aqui está mais uma história da minha
história. E só mais um detalhe importantíssimo, aliás, o mais importante...para que entendam o que, de
fato, aconteceu...sabem por que a festa tinha gente de todos os tipos e tribos? Porque os
malucos, o Guido e o Japa, TINHAM DIVULGADO A FESTA NA INTERNET NO COMEÇO DAQUELA SEMANA!!! Nós não sabíamos, não tínhamos idéia sobre aquilo. Malucos e corajosos,
não? Bom, saímos de lá bem tarde, os primeiros a sair, e acabamos a
madrugada no Joaquin’s, comendo algo salgado, pois estávamos enjoados de tanto
doce. E para quem acha que somente o Eduardo e a Mônica que se conheceram, sem
querer, em uma festa estranha, com gente esquisita, está muito enganado. O
Guido e a Adriana, sua esposa, mãe dos seus dois filhos, conheceram-se nessa
festa. E quem irá dizer que existe razão nas coisas feitas pelo coração, né?
Tudo é possível mesmo. Saudades de vocês, Guido e Adriana!!! Eles moram lá na Alemanha, com seus filhotes lindos.
Muito bom Lô. Continue escrevendo. Bj.
ResponderExcluirQue bom que tem lido o Blog, Má. Tô me divertindo. Tenho que começar a escrever as histórias da nossa época de faculdade. Alguma sugestão, lembrança? Super beijo.
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