Batman vira vilão e ataca a Gotham City do Brasil, a Vila Olímpia!
Em
2007, mais precisamente no dia 20 de janeiro, o Luiz e eu nos mudamos para o
nosso apartamento da Vila Olímpia. Antes desse prédio ficar pronto, morávamos
em um Flat em Alphaville. Na época, trabalhávamos na Rio Negro, então, morar lá
era uma mão na roda. Aliás, gostamos de Alphaville até hoje. Foram ótimos
tempos. Naquele dia, nós fizemos a nossa mudança na parte da manhã, e, naquela
noite, levamos os meus pais para jantar no Vicolo Nostro Ristorante. Dia 20 de
janeiro é aniversário da minha mãe. Fizemos uma comemoração dupla. Comemoramos
a nossa mudança e o aniversário dela. Lembro-me até do parabéns diferente que o
Ristorante proporcionou à Dona Isabel. O bolo de aniversário era um mega
algodão doce que os garçons colocaram no meio da nossa mesa. Uma graça de mimo.
Naquele ano, eu já fazia o meu MBA na FIA. Eu tinha aula três vezes por semana
e também aos sábados. A vida era bem corrida, mas muito boa. As aulas do final
de semana iam das 8h30 às 17h30. Era bem puxado. Às sextas-feiras, a gente
procurava não fazer nada de extravagante. No geral, ficávamos em casa. Eu só
queria dormir mais cedo para poder aguentar, firme, o dia seguinte. O Luiz,
como sempre foi super tranqüilo, não ligava para o fato de não sairmos...pelo
contrário...ele me apoiava...aliás, sempre apoiou as minhas empreitadas. Uns
dois meses depois de termos nos mudado para a Vila Olímpia, no meio de uma
madrugada de sexta para sábado, ouvimos, do nosso quarto, um barulho estranho.
Aparentemente, ele vinha do banheiro de hóspedes. Como temos o sono leve, teria
sido improvável não termos ouvido aquele grunhido. Nós dois ouvimos o estranho
ruído, vindo de fora do nosso quarto, ao mesmo tempo. Eram, com certeza, ondas
ultra-sônicas. Pena não conseguir representá-las aqui, por meio das palavras,
mas, garanto, o som tinha uma freqüência muito alta, na faixa de 20 a 215 kHz.
Eu logo reconheci. Eu não sabia, exatamente, qual era a espécie do quiróptero
para determinar, naquele momento, se o som vinha do seu nariz ou da sua boca.
Mas tinha plena convicção de que se
tratava de um morcego. Um andirá dentro de um apartamento localizado no
epicentro de São Paulo? Seria isso possível? É claro que não me contive e
disse: “Luiz, tem um morcego aqui dentro de casa!” “Que morcego o que, Loraine?
Tá maluca? A gente tá no meio da cidade de São Paulo. Isso daqui não é uma
fazenda em Cesário Lange. Esse barulho deve ser da banheira do vizinho lá de
cima.” Detalhe...o cara de cima ainda não morava no prédio. O condomínio tinha
sido entregue em setembro de 2006. Nós nos mudamos em janeiro de 2007. Acho que
fomos a terceira família a mudar para lá. Outro detalhe importante...fomos uma
das primeiras, se não a primeira família a morar para o nosso bloco. O prédio
tem três blocos. O nosso apartamento ficava no bloco C e era voltado para a Rua
Helena. Para quem não conhece a Rua Helena, ela é um logradouro calmo, se
comparado aos outros tantos da Vila Olímpia, contudo, está bem longe de parecer
uma chácara...muito longe disso. Todavia, como estava muito cansada desconsiderei
o fato de saber que não havia ninguém morando no apartamento de cima e voltei a
dormir. Alguns minutos depois, quando, incrivelmente, eu já estava de volta aos
braços de Morfeu, voltei a ouvir as ondas. Não obstante, dessa vez, elas
pareceram super-ultra-sônicas. Tomei outro susto e me sentei na cama. “Luiz,
você ouviu o barulho outra vez?” “Tem um morcego aqui dentro de casa. Eu
conheço o barulho que os morcegos fazem.” “Loraine, não viaja...é o ventilador
de teto que não deve estar bem preso. Acenda a luz que eu vou dar uma olhada
nele.” Nós tínhamos um ventilador de teto no quarto. Como estávamos em pleno
março, nós o ligávamos todas as noites, pois o calor estava insano. O Luiz
ficou de pé na cama e, numa tentativa de me mostrar que eu estava errada, depois
de quase ter sua cabeça decepada pelas hélices da ventarola, fez lá uma manobra
e deu uma apertada na máquina. Depois desse seu feito, mesmo que muito
intrigada, voltei a dormir novamente. Pouco tempo depois, pela terceira vez,
ouvimos o estranho piado. E não é que parecia mesmo um piado? Dessa vez, nós
nem nos falamos, acendemos as luzes e fomos fazer uma vistoria na casa. Antes
disso, o Luiz, como sempre com suas bestagens, além de se manter com sua
camiseta rasgada, de brinde, colocou um lenço vermelho, de ninja, em sua testa,
e, achando-se o Sylvester Stallone no Rambo 6, deu-me a seguinte ordem: “vá na
frente que eu vou ficar na gestão da operação!!!” É isso mesmo. Ele ficou na
gestão e eu, empunhando a minha arma de guerra, o meu travesseiro de penas de
ganso, saí pela casa a procura de “algo”. Por mim, eu estaria procurando um
morcego, mas como não estava na gestão, procurei qualquer coisa que pudesse ter
emitido aquele ruído. O Luiz foi atrás de mim, mas não, em momento algum,
assumiu a linha de frente. Fomos até a lavanderia, passamos pela cozinha, pelo
lavabo, pelas salas, demos uma olhada na varanda, voltamos ao corredor dos
quartos, olhamos o quarto de hóspedes, o banheiro de hóspedes e, por fim,
voltamos para o nosso quarto. Nada, não encontramos nada, nenhum vestígio. Às
4h30 da manhã, depois de uma caça desenfreada, voltamos a nos deitar. “Luiz, a
gente não achou nada. E agora? Que bicho será que faz esse tipo de barulho? O
pior, Amore, é que cada vez que eu o ouço eu tenho a sensação de que ele está
mais perto da gente. Você não sente isso?” “Loraine, esquece. Já olhamos a casa
toda. Não tem nada aqui dentro. Vamos dormir que amanhã você tem que acordar
cedo.” “Amanhã? Que amanhã o que! Eu tenho que estar de pé daqui a duas horas e
meia.” “Pois é, mais um motivo para a gente parar de falar e voltar a dormir.”
“Já sei, Leindo, tive uma idéia.” “Ai, meu Deus...que idéia?” “Vou desligar o
ventilador. Se ele for o causador do barulho, então, vamos parar de ouvi-lo. O
que acha?” “Eu acho que eu vou assar, mas pode desligar, vamos fazer o teste.
Tchau, Loraine, volte a dormir. Tá tarde.” Como eu iria voltar a dormir se
estava receosa? Além disso, se eu pegasse no sono naquele horário, teria
dificuldade de levantar da cama às 7h, horário em que o meu despertador
tocaria. E ali fiquei, contando carneirinhos. O Luiz começou a dormir tão logo
me mandou voltar a dormir. Caramba, quanta tranquilidade. Quanta convicção de
que o som não era mesmo de um morcego. Queria eu estar tão convicta. Enquanto
fazia todas essas análises, a onda “super-sônica” voltou a atacar...só que
dessa vez, o barulho estava muito mais perto de mim, foi, praticamente, um
estampido no meu ouvido esquerdo, já que eu estava deitada de barriga para
cima. O Luiz se assustou. “O que foi isso?” “Sei lá...socorro, agora eu estou
com medo...” “Acenda a luz novamente, Loraine!” O interruptor ficava do meu
lado. Lá fui eu. Acendi a luz. Ato contínuo...de trás do meu criado mudo saiu,
voando, nada mais nada menos do que o Batman. É sério. Tinha mesmo um morcego
dentro da minha casa. Um mega morcego. Demos um pulo...eu pulei para o lado dele
e ele pulou para fora da cama. O bicho saiu do nosso quarto e foi para não
sabíamos onde. “Tá vendo, Luiz, eu não disse que era um morcego?” “Eu conheço
morcegos!” Nem sei porque sabia que era um morcego, mas sabia. “Loraine, como
alguém, em sã consciência, poderia supor que um morcego iria entrar num
apartamento localizado no meio da cidade de São Paulo? Tem que ser muito
criativo, como você, para conjecturar algo assim.” “Pois é, mas eu conjecturei
certo desde o início e o bicho estava aqui do meu lado o tempo todo...credo! E
agora, o que vamos fazer? Eu não vou mais para a linha de frente. Dessa vez, a
gestão é minha.” O Luiz pegou seu travesseiro, saiu do quarto e, bem
silenciosamente, procurou ouvir se o andirá faria o barulho novamente. Nós
tínhamos que saber onde ele tinha se metido para podermos colocá-lo para fora.
E não deu outra. O bicho soltou outro grunhido. O barulho veio do quarto de
hóspedes, que ficava na frente do nosso. Naquela época, aquele quarto estava
vazio. Havia apenas um colchão encostado na parede. Só isso. O Luiz olhou o
quarto todo e não viu nada. “Lô, ele está aqui, mas não sei aonde. Ele deve ter
se escondido.” Mas onde ele teria se escondido se o quarto é todo branco e não
tem nada dentro dele? “Só se ele estiver atrás do colchão, você já olhou lá?”
“Não...vou olhar...pera aí!” “Pode deixar...vou ficar bem paradinha aqui.” A
janela do quarto estava aberta, toda aberta. O Luiz, calmamente, olhou atrás do
colchão, que estava inclinado, encostado na parede, embaixo da janela. “Aqui
está ele.” “Ele está aí?” “Está, todo encolhido.” “Credo, tira ele daqui,
Luiz.” “Tô com aflição.” A tática foi a seguinte: ele pegou o colchão e começou
a levantá-lo, bem devagarzinho, no sentido da janela...foi posicionando o
colchonete de uma forma que o morcego ficasse na mira. Quando conseguiu fazer
isso, deu um mega tapa no colchão, para que o bicho se desgrudasse dali e
voasse. E foi isso que aconteceu. O tapa foi tão forte que eu achei que o
colchão também fosse sair voando do 8º andar. Imediatamente, o Luiz fechou a
janela do quarto e depois fechou a porta do banheiro de hospedes. “Pronto,
Loraine, tudo certo, resolvi o seu problema!!!” “Resolveu o meu problema? Quem
disse que o morcego era um problema? Com um problema eu estou agora, que já são
6h45 e eu já tenho que tomar banho para ir para a aula. Dá para você resolver
esse real problema, Amore?” Enfim, o sufoco tinha acabado. O Luiz voltou para a
cama e eu fui tomar banho para ir para a FIA. No caminho para o Butantã, não
pude deixar de pensar em tudo que tinha acontecido com a gente naquela
madrugada. Seria difícil acreditar naquela história, pensei eu. Mas vou contar
para todo mundo, é claro. Tudo, as coisas mais inusitadas, acontecem comigo e
com o Luiz. É impressionante. Além de pensar no que tinha acontecido e no
desfecho de toda a história, pensei no que poderia ter havido e, graças a Deus,
não houve. E se a gente não tivesse ouvido barulho algum e aquele morcego
tivesse voado, na direção do ventilador, e virado carne moída? Nós teríamos
acordado e achado que um Poltergeist teria se manifestado em nosso quarto
durante a madrugada. Nossa, pensei eu, teríamos visto sangue para tudo que é
lado, em todas as paredes, nos lençóis, acho até que na gente. Cruz credo. Mas
logo raciocinei melhor e me lembrei de que esses animais têm pelos em suas asas
e esses cabelinhos os ajudam a controlar seus voos. Ele nunca teria acertado o ventilador.
Ainda bem...dos males, o menor. E essa é só mais uma das minhas várias
aventuras com o Luiz. Houve outras, muitas outras. Algumas já foram contadas
nesse Blog...outras ainda serão.
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