No dia 14 de agosto de
1987, na festa de aniversário de um amigo, eu dei o meu primeiro beijo. Pois
é...o meu primeiro beijo foi aos treze anos. Antes dele, tinham sido apenas
bitocas, estalinhos muito rápidos, sem graça. Mas naquele dia, foi diferente.
Foi como seu eu tivesse usado o meu primeiro sutiã...aliás, foi bem mais
emocionante do que ter usado um sutiã, pois desse dia do beijo eu me lembro
como se fosse hoje...e, juro, não tenho a menor idéia de quando comecei a usar
sutiãs. Embora tenha gostado do beijo, confesso, não é, exatamente, por causa
dele que mantenho esse dia aceso em minha mente...a hora do beijo foi
bacana...acho até que fiz direitinho. Mas se eu for ponderar tudo que percorri
para conseguir chegar até aquela hora, certamente, considerarei que o beijo, em
si, terá sido o de menos. O que, de fato, não me deixa esquecer desse dia foi o
que aconteceu antes do tão esperado momento. Hoje, e já há muito tempo, sei que
o meu “amor”pelo garoto era platônico. Foram quase dois anos de amor à
distância, cheio de fantasias e de idealizações. Não havia envolvimento. Mesmo
assim, mesmo sem o conhecer, para mim, ele era perfeito, tinha todas as
qualidades. Em plena adolescência, confesso, tinha lá minhas inibições. Além
disso, em 1987, as coisas eram bem diferentes se comparadas aos dias de hoje.
Embora o “ficar”tenha se consagrado, entre os jovens brasileiros, nos anos 80,
nós tínhamos mais limites e ainda respeitávamos certas regras...ou fingíamos
que respeitávamos. Bons tempos. Não tínhamos tanta urgência...ou conseguíamos
segurar mais a nossa onda. Mas o meu amor platônico, embora solitário, era
interessante. Eu ficava, por horas, ouvindo a Carly Simon e pensando,
pensando...You’re so vain!!! Quem já não fez isso na vida? E esses quase dois
anos foram assim, uma seqüência de day dreamings, Carly Simon pra lá e
pra cá, sempre conjecturando a possibilidade de, quem sabe, um dia, poder
namorar aquele moçoilo. Durante esse período, do começo de 86 até agosto de 87,
embora, como escrevei acima, tivesse lá meus acanhamentos, procurei demonstrar
o meu sentimento a ele, que me parecia tão irresistível. Sinceramente, eu via,
de cada momento daqueles anos, o que era suscetível de servir aos meus
interesses. A minha prioridade era eu mesma. De que me adiantariam as letras da
Carly Simon se aquele fato não fosse ser, de fato, um ato consumado? Ter
aguentado a Carly gruindo nos meus ouvidos por tanto tempo teria que ser
incrivelmente recompensador. Porém, enquanto eu preparava a trama toda, eu não
parava para pensar que eu nunca tinha dado um beijo de verdade. Talvez, se eu
tivesse considerado esse detalhe, não tivesse passado pelo constrangimento que
passei naquele agosto, mês de desgosto. Foram dias, meses, dois anos, tentando
me fazer presente, notada. Pensando bem, coitado do rapaz. Devo ter forçado a
barra. Não que eu fosse de se jogar fora...rsrsrsrsrsrs...acho que não era...a
minha auto-estima não era tão baixa assim, mas, revelo, não foi nada fácil
conquistar o aspirante a homem. De qualquer maneira, de tanto insistir, acho
que consegui dobrá-lo. Finalmente, chegou agosto de 1987. Tava tudo combinado.
O aniversário do meu amigo pouco importava. Era como se a festa tivesse sido
organizada para que o primeiro beijo da Loraine, finalmente, saísse. Até o aniversariante
estava mais interessado no meu primeiro beijo do que no seu próprio
envelhecimento. E, depois de todas as minhas tímidas investidas, o grande dia
havia chegado. Eu tinha apenas treze anos. Dependia, integralmente, dos meus
pais. O preparo para aquele dia gerou uma gastança desenfreada por parte deles.
Mesmo sem que pudessem, eles me ajudaram para que o gran finale fosse
consagrado. Mal sabiam eles o que estavam promovendo com o meu embelezamento.
Com o dinheiro deles, comprei um presente para o aniversariante, fiz as unhas,
comprei uma roupa nova e sapatos novos. Só não fiz o cabelo, as sobrancelhas e
depilação, pois naquela época, ainda não fazia essas coisas. Se não me engano,
dia 14 de agosto de 1987, foi um sábado. Passei o dia todo pensando em como
seria aquela noite. Porém, mesmo durante esse dia específico dia, eu não me dei
conta de que eu nunca tinha dado, se quer, um mini, micro beijo em alguém. E a
manhã passou, a tarde também e a noite foi chegando. Tomei meu super banho,
vesti minha calça de veludo, cor de rato, minha camiseta branca, minha malha de
listras verdes e azuis, meu London Fog bege, de bico quadrado, e lá fui eu,
encaminhada, pelo meu pai, à festa que me deixaria, não mais, virgem de boca.
Mal sabia o Sr. Leo. Chegando à festa, fui muito bem recebida pelo
aniversariante e por sua mãe. Eu já conhecia a Dona Sílvia. O aniversariante
era bem meu amigo. Quando cheguei, a festa já estava rolando. Comidinhas, bebidinhas,
todo mundo integrado e animado, pensando no que estava por vir. O meu queridinho
já estava lá. Mal entrei, já senti sua presença. Ele estava todo arrumadinho.
Com o modelito masculino da época, lembro-me, estava bem aprumado. Eram umas
21h30 quando cheguei. Tinha demorado para me arrumar. A festa tinha começado às
20h. Lá pelas 21h45, integrei-me à turma, conversei, ri a beça, mas não
consegui relaxar. Impossível. O tempo estava passando muito rapidamente. A hora
do beijo, inevitavelmente, estava chegando. Meu Deus. Foi lá pelas 23h30,
quando o mancebo resolveu ir embora, que eu surtei. Como assim? A festa tinha
acabado para mim. Ele tinha ido embora sem, se quer, dar-me satisfação. Como se
algum dia tivesse me dado ou devido satisfações. Pirei...o garoto tinha sumido.
Não, isso não podia estar acontecendo. As minhas amigas, que estavam prontas
para as fofocas do pós-beijo, tentaram segurar a minha onda. “Calma, Lô, ele
vai voltar...ele sabe que hoje é o dia do beijo!” Mas eu não achava nada disso.
Eu achei que ele não tivesse gostado do meu style, da minha calça de veludo, do
meu London Fog. Achei que tivesse feito algo errado. Comecei a passar mal.
Sério? Muito sério. Comecei a tremer, a suar frio, a ficar gelada. O
aniversariante teve que acionar sua mãe. “Mãe, socorra aqui...a Lô tá passando
mal!” Ela estava na sala de TV e saiu correndo de lá. Veio até mim, pegou a
minha mão e me levou até o seu quarto. Meu amigo, seu filho, foi junto. Eu
estava a ponto de ter uma síncope. “Lô, ela disse, acho que você está com
febre. Esta tudo bem? Você esta passando bem?” “Sim, tia, estou bem, mas estou
me sentindo um pouco fraca.” “ Vamos ver se você está mesmo com febre. Deixe-me
pegar o termômetro.” E lá foi ela, atrás do termômetro, que ela não devia usar
há anos, desde a época em que seus dois filhos eram pequenos. Já devia fazer
tempo. Eu coloquei o termômetro e esperei, na presença deles dois, três
minutos. Quando fomos ver, a minha temperatura estava em 38,5º. Eu estava,
realmente, com febre. “Nossa, Lô, você está mesmo com febre. Vamos ligar para
os seus pais, para que eles venham te pegar.” “Não, tia, eu não quero ir embora
agora.” “Mas você tem que ir, Lô. Você não está bem.” “Eu vou ficar bem, tia. É
só o “fulano”voltar para a festa.” “Ele vai voltar, Fê?” Fê era o apelido do
meu amigo. “Quem, o fulano, perguntou ele?” “Sim, você sabe de quem estou
falando. Como assim ele foi embora?” “Kkkkkk...Lô, ele não foi
embora...ele só foi comprar mais refrigerante pra gente. Ele foi com o tio
Sérgio” “ Sério, tia? Ele volta então?” “Claro, Lô! Ele também está ansioso
pelo seu beijo.” “Beijo? Que beijo?” “Não precisa esconder de mim...já sei de
tudo. O Fê não me esconde nada.” “Sério?” “Sim. Já sei que dará o seu primeiro
beijo daqui a pouco, aqui na minha casa.” “Mas eu quero ir embora, tia.” “Que
embora o que! Até com febre você está, de tão ansiosa.” “Mas eu nunca dei um
beijo. Não quero que seja hoje, não pode ser hoje.” “Tarde demais, Lô, vai ter
que ser hoje.” E, de repente, do além, quem surge no quarto da tia? Ele, o
deflorador de bocas. “Tá tudo bem por aqui? Você está bem, Lô?” “Sim, estou
ótima.” “Sim, ela está ótima, disse a tia.” “Vamos lá para a sala então? Tá
todo mundo lá.” “Vamos sim.” E lá fomos nós quatro, rumo à cena do abate. Eu,
lembro-me, continuava tremendo. A febre também continuava lá. As minhas pernas
estavam bambas, eu estava suando frio. Eu, afinal, tinha me dado conta de que
nunca havia dado um beijo em alguém. Mas era tarde demais para pensar nisso. Eu
teria que executar o meu plano, que tinha sido elabora durante dois anos. E lá
fomos nós, ele e eu...fomos nos direcionando para o sofá, da sala de estar,
sentamo-nos, conversamos, bem rapidamente, para que nos conhecêssemos um pouco
mais, e...pronto...não tinha mais o que ser feito...o beijo aconteceu. Foram
minutos, talvez segundos, fazendo aquilo...não ouvia nada...era como se
houvesse a ausência total de sons audíveis no recinto...e o beijo
continuou...até que, lá no fundo, comecei a ouvir um som...o som foi se
tornado, cada vez, mais alto, ficando mais forte, mais próximo...eram
aplausos!!! Aplausos? Nós nos desvencilhamos...e quando voltamos à realidade, a
festa inteira, umas quarenta pessoas, estava batendo palmas para o nosso beijo.
É isso mesmo. O meu primeiro beijo teve muito esplendor e muitos aplausos.
Aliás, o efeito sonoro desses aplausos, misturados com o beijo, foi
sensacional. O nosso ato tinha sido aprovado pelos humanos presentes. Genial.
Comigo, nada é reto...já diria o Luiz, meu digníssimo esposo. Por que teria
sido o dia do meu primeiro beijo um dia como outro qualquer? Claro que não!!!
Kkkkkk como vc pode ter tantas boas histórias???
ResponderExcluirPena q não posso contar a minha versão do primeiro beijo aqui.... rs