Rapadura é doce, mas não é mole não!
Hoje
à noite, tive, novamente, uma aula genial lá no CEP. O professor Antônio Carlos
Farjani deu outro show. Incrível. O tópico era “Os Três Tempos do Complexo de
Édipo do Lacan”. Para quem não sabe, Jacques Lacan é um dos grandes
pós-freudianos. Sua obra é erudita, difícil de compreender, obscura, cheia de
linguagem alusiva, de jogos de palavras e muito pedantismo intelectual. Os seus
leitores, no geral, encontram-se diante de um verdadeiro desafio para
compreender e assimilar seus enfoques. Eu, confessamente, sou uma dessas
leitoras desafiadas. Abandonei um Mestrado em Lingüística, basicamente, porque
não entendia o que queriam dizer os pesquisadores desse estudo científico.
Portanto, não consegui finalizar a minha dissertação. Para mim, que não tenho
formação nesse estudo da linguagem, foi impossível compreender Roman Jakobso,
Nikolai Trubetzkoy, Sergei Karcevskiy, René Wellek, Jan Mukarovsky e tantos
outros. Sempre me senti mal por não ter terminado de escrever a minha
dissertação, pois só faltavam ela e sua defesa para que eu conseguisse o meu
título de mestre. Mas essa sensação ruim passou hoje, no final da aula do
Farjani. No final do show que deu, ele nos leu o seguinte texto.
Por
Beto Holsel
COMO
SIMPLIFICAR UM TEXTO CIENTÍFICO
TEXTO
ORIGINAL
O
dissacarídeo de fórmula C12H22O11, obtido por meio da fervura e da evaporação
de H2O do líquido resultante da prensagem do caule da gramínea Saccharus
officinarum, Linneu, isento de qualquer outro tipo de processamento suplementar
que elimine suas impurezas, quando apresentado sob a forma geométrica de
sólidos de reduzidas dimensões e arestas retilíneas, configurando pirâmides
truncadas de base oblonga e pequena altura, uma vez submetido a um toque no
órgão do paladar de quem se disponha a um teste organoléptico, impressiona
favoravelmente as papilas gustativas, sugerindo a impressão sensorial
equivalente provocada pelo mesmo dissacarídeo em estado bruto que ocorre no
líquido nutritivo de alta viscosidade, produzindo nos órgãos especiais
existentes na Apis mellifica, Linneu. No entanto, é possível comprovar
experimentalmente que esse dissacarídeo, no estado físico-químico descrito e
apresentado sob aquela forma geométrica, apresenta considerável resistência a
modificar apreciavelmente suas dimensões quando submetido a tensões mecânicas
de compressão ao longo do seu eixo em conseqüência da pequena deformidade que
lhe é peculiar.
PRIMEIRO
ESTÁGIO
A
sacarose extraída da cana de açúcar, que ainda não tenha passado pelo processo
de purificação e refino, apresentando-se sob a forma de pequenos sólidos
tronco-piramidais de base retangular, impressiona agradavelmente ao paladar,
lembrando a sensação provocada pela mesma sacarose produzida pelas abelhas em
um peculiar líquido espesso e nutritivo. Entretanto, não altera suas dimensões
lineares ou suas proporções quando submetida a uma tensão axial em conseqüência
da aplicação de compressões equivalentes e opostas.
SEGUNDO
ESTÁGIO
O
açúcar, quando ainda não submetido à refinação e, apresentando-se em blocos
sólidos de pequenas dimensões e forma tronco-piramidal, tem o sabor deleitável
da secreção alimentar das abelhas, todavia não muda suas proporções quando
sujeito à compressão.
TERCEIRO
ESTÁGIO
Açúcar
não refinado, sob a forma de pequenos blocos, tem o sabor agradável do mel.
Porém não muda de forma quando pressionado.
QUARTO
ESTÁGIO
Açúcar
mascavo em tijolinhos tem o sabor adocicado, mas não é macio ou flexível.
QUINTO
ESTÁGIO E TRADUÇÃO
Rapadura
é doce, mas não é mole não.
Pois é...hoje, dei-me
conta de que sofri, à toa, durante todos esses anos. Os russos é que
complicaram a Lingüística...a incompetência não foi minha!!!
Comentários
Postar um comentário