Twinkies!

Para quem me conhece há mais tempo sabe que essa minha nova história é mais uma das minhas histórias velhas. Mas qual das minhas histórias nesse Blog é nova? Segundo um autor desconhecido, para se preparar para o futuro, é necessário compreender o passado.  Digamos que esse meu Blog, pelo menos até agora, seja o meu caminho mais seguro para o futuro. É o meu processo de análise, o meu acesso aos meus conteúdos mentais. Um diálogo entre mim e meus eventuais leitores. Escrever nele tem me feito muito bem. Recomendo esse exercício. Pois bem, voltemos aos anos 90. Em 1991, eu morava em Lynn, Arkansas, no sul dos Estados Unidos. Eu morava na casa do Mr. e da Mrs. Van Doyle e dos seus quatro filhos: Terry, Billy, David e Randy. Lynn tinha apenas 345 pessoas na época. Era uma cidadezinha do “American South”. Cidade provinciana, povo provinciano, mas que não se envergonha disso. Diferente do brasileiro, multidão, também provinciana, que, com o atual momento de esplendor econômico, infla o peito e se envaidece. Coitados de nós. Confundimos avanço econômico e estrutural com desenvolvimento educacional e humanístico. Mas essa é outra história. Durante o programa de Intercâmbio, experiência pela qual passei, o estudante tem que ser tratado como um filho pela "hots family", que, no geral, é de classe média. Eu fui tratada exatamente assim, como uma filha. Aliás, fui tratada como a filha que eles nunca tiveram. Eu colaborava na rotina doméstica, na rotina da casa, assim como os meus quatro “host brothers” faziam. Mas, de verdade, isso exigiu muito pouco de mim, já que sempre fui acostumada aos afazeres de casa no Brasil. Procurando ser sempre muito flexível, adaptei-me facilmente ao estilo de vida dos meus queridos “hillbillies”. Um detalhe importante: a minha família não era de classe média...era a família mais abastada e tradicional da cidade. Mas não parecia. Eles viviam com muito pouco luxo e até de forma menos confortável do que poderiam. Algumas vezes, parecia exagero do Van. Ele não pegava leve, se quer uma vez, com aqueles meninos. "Querem ganhar um trocado para se divertirem aos finais de semana? Então vocês têm que ralar, comigo, na fazenda durante a semana." Ele dizia isso, praticamente, todos os dias aos quatro. E lá estavam eles, sempre a postos. Trabalhavam como mouros, antes e depois dos estudos, naqueles pastos. Só assim conseguiam ver a cor das parcas verdinhas que recebiam às sextas-feiras. Mesada? Que nada. Para o pai deles, somente o trabalho poderia engrandecer seus filhos. Seguir seus passos era o único caminho para que pudessem se tornar os verdadeiros filhos do Van Doyle. Mas ele estava errado. Havia outra forma, que não só o trabalho árduo, que, exigindo menos esforço dos seus rebentos, também os ajudaram a se tornarem homens engrandecidos: os malditos Twinkies. Foi tanto Twinkie mandado pra dentro, a vida toda, antes, durante e depois da labuta, que os quatro redundaram em gigantes, fortalecidos...e por que não dizer obesos. Para quem nunca ouviu falar em Twinkie, ele nada mais é do que uma Ana Maria, sabor baunilha, americana. Aliás, provavelmente, a Pullman deve ter se baseado na sua fórmula de sucesso para criar o bolinho nacional. Eita coisa boa. O Twinkie é bom demais, sensacional mesmo. Tá ali na disputa, páreo a páreo, com as Pop-tarts, outra delícia da "tradicional" culinária americana. Agora eu pergunto: tem como não ser gordo naquele país? Impossível. A comida mais "deles" que eles têm é frango com milho. O resto, ou quase todo o resto, é industrializado, feito para que eles não tenham trabalho. Quem é que aguenta comer frango com milho todos os dias? Lembro-me do David...tão magrinho. Tarde da noite, quando todos já estavam dormindo, nós dois nos sentávamos à mesa da cozinha, abríamos uma lata de vagem, e outra de milho (o milho não podia faltar), pegávamos duas colheres e ficávamos lá, horas a fio, conversando sobre as dinâmicas dos nossos países, das nossas cidades, das nossas vidas, a dele numa cidade de 345 habitantes e a minha numa cidade, já na época, de milhões de seres, e comendo vagem com milho. Tínhamos muita coisa para contar um para o outro. Ainda bem que fazíamos isso ao sabor dos enlatados e não dos Twinkies. "Thank God". Fico imaginando qual não seria o meu tamanho hoje em dia se tivesse voltado pra lá para fazer faculdade, como estava planejado. Eu não teria escapatória. Muito provavelmente estaria mega como eles e suas respectivas esposas. Por mais sanidade e força de vontade que eu tivesse, jamais teria conseguido escapar daquelas delícias artificiais. Sinto falta da minha querida família americana. Já faz tanto tempo que nos vemos pela última vez. Foi lá em 2004, há quase nove anos. Meus queridos grandalhões, sinto muita falta de vocês. Quem sabe a minha Lála não faz intercâmbio na casa de um de vocês daqui uns doze anos, hein? Saberia que a tratariam como a sobrinha brasileira de vocês. Ficaria muito tranquila. Quem sabe??? "Miss you, Dear all"! 

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