Manter-se magro é uma opção?

O pior não é emagrecer. O pior é conseguir se manter magro.

Quando eu tinha uns oito, nove anos de idade, em uma consulta com o nosso médico homeopata de família, o Dr. Ribeiro, já falecido, ele disse a mim e a minha mãe que aos 40 anos eu poderia passar a ser gorda.

Aquilo, já naquela época, caiu-me como uma bomba. Acho que comecei a me preocupar desde então.

Alguns anos depois, quando tinha meus dezoito, dezenove anos, um neurologista, muito conhecido na época e ainda hoje, disse-me, do nada... “essas pernas são pernas de quem não pratica nenhum esporte. Cuide delas para que não fiquem gordas quando você for mais velha, menina!”

A moeda tem dois lados, as histórias têm sempre dois lados, quase tudo tem dois lados na vida, assim como as famílias. No meu caso, um lado magro e o outro nem tanto.

Até uma fase da minha vida, pareceu que eu havia puxado para o lado magro, mas depois dos 35, a história mudou. O outro começou a bater mais forte.

Durante a minha gravidez, que aconteceu ao longo dos meus 34 anos, eu somente engordei 9 kilos. Mas depois dela.

Sempre pesei entre 55 e 57 Kg. Entre os meus 35 e 40, cheguei a pesar 71 Kg, na pior fase.

Pois bem, tudo isso para contar que agora, com quase 41 anos, resolvi que quero ser magra e não gorda e que, portanto, preciso aprender a sê-lo, pois não sei.

Embora não saiba me manter magra, uma coisa eu sei...sozinha é que eu não consigo.

E foi após essa minha decisão e reflexão que comecei a procurar ajuda.

Por meio de uma amiga querida, cheguei a uma clínica terapêutica, que tem como único objetivo fazer com que as pessoas aprendam a se manter magras. Sem remédios, sem mandingas, sem placebos, somente por meio de conversas, muita terapia feitas, invariavelmente, em grupos.

Achei fantástico, afinal, o que não é a compulsão alimentar que não uma doença mental em que a pessoa sente a necessidade de comer, mesmo quando não está com fome, e que não deixa de se alimentar apesar de já estar satisfeita? Uma perda de controle. Um enfrentamento emocional ineficaz para lidar com emoções. Ineficaz porque, frequentemente, é acompanhada por sentimentos de angústia, incluindo vergonha, nojo e culpa.

E assim foi. Conheci o centro de tratamento terapêutico da alma e passei a participar dos grupos de discussões.

Desde então, tenho refletido sobre o que tenho testemunhado nas reuniões.

São tantos depoimentos, uns mais desesperados, outros mais amenos, uns mais sofridos, outros mais suportáveis, mas, no frigir dos ovos, todos carregados de motivos, motivos para que quase tenham explodido de tanto comer.

Há depoimentos de quem já perdeu 40 kilos, outros de pessoas que perderam 25, outros sobre a perda de 8 kilos. Sejam lá quantos kilos foram perdidos, antes, estavam lá, a mais, instalados em suas almas.

E aí me tem vindo à mente a libido de Freud. A energia aproveitável para os instintos de vida. A energia que impulsiona a vida.

Muitos distúrbios, incluindo os alimentares, são provocados pelo excesso ou falta / perda da libido.

O alimento é um dos muitos objetos capazes de enganar a pulsão, de satisfazê-la por alguns instantes até que ela volte a nos incomodar. E é pelo fato de a comida poder fazer semblante de objeto a razão que nos leva a comer mais do que deveríamos. Em outras palavras, exageramos na comida para enganarmos a pulsão.

Vale aqui explicar o que é a pulsão. É o impulso energético interno que direciona o comportamento do indivíduo, comportamento esse que pode ser gerado pelas pulsões ou pelas decisões. Aquele gerado pelas pulsões é gerado por forças internas, inconscientes, alheias aos processo de decisão.

Portanto, isso me leva a crer que comemos mais do que devemos para enganarmos o nosso inconsciente, nosso complexo psíquico de natureza misteriosa, obscura, de onde brotam as paixões, o medo, a criatividade e a própria vida e morte.

Isto posto, cada pessoa, inconscientemente, tem um motivo para comer. Em determinado momento, a comilança parece inevitável. E seria impossível generalizar os motivos: tédio, estresse, ansiedade, tristeza, etc. No geral, não é fome. Ninguém engorda sem comer. O contrário sim é que é verdadeiro. Todos emagrecem sem comida.

À vista de tudo isso, vem-me a mente outra questão. Como ser magro, e se manter magro, em um mundo tão estressante quanto o nosso?

No Brasil, mais de 50% da população está acima do peso ideal. Mas o pior não é isso. O pior é que levantamentos feitos para o entendimento das causas leva em consideração apenas os hábitos da população, como o tabagismo, consumo abusivo de bebidas alcoólicas, alimentação e atividades física. Não se fala nada sobre os reais motivos que fizeram com que os brasileiros passassem a ter esses hábitos mortais. E o governo, com certeza, procurará cuidar da consequência e não da causa. A obesidade no Brasil será tratada por remédios alopáticos e não homeopáticos. Portanto, a probabilidade de nos mantermos gordos, e mais gordos, tão gordos e explodirmos, é imensa.

Se ao comermos estamos procurando enganar o nosso inconsciente, ao fumarmos, ao bebermos fazemos o mesmo.

Não há razão para se ser gordo se não se come muito. Mas há muitas razões que fazem com que as pessoas se alimentem de forma desmedida. Essas razões é que precisam ser tratadas, caso contrário, só há duas sequelas possíveis para quem só trata a consequência: o efeito sanfona ou o efeito Dona Redonda, de Saramandaia, a explosão.

Por conseguinte, viva o centro terapêutico o qual estou frequentando, cujo objetivo é ensinar as pessoas a se manterem magras e não apenas a emagrecerem. Viva a psicanálise, que investiga a mente e seu funcionamento.

Quem sabe os países, cujas populações estão se tornando obesas, não passam a pensar em terapias alternativas para a cura da causa dessa enfermidade, que só tende a aumentar, já que o mundo moderno está em constante mutação e o estresse, o medo, as incertezas, as injustiças, todas são doenças de adaptação ao meio.

Quem sabe?

Manter-se magro é uma opção?

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