Há muito mais cores e luz no fim do túnel!
A ciência psicanálise
A psicanálise, ciência do inconsciente, tem grande importância e
significado na vida humana, pois por meio dela o indivíduo se compreende,
eventualmente, resolve-se e, o melhor, entende seus semelhantes, bem como a
sociedade em que vive.
No nosso inconsciente guardamos todas as nossas impressões que,
como marcas, acompanham-nos por toda a nossa vida.
E se sabemos disso, se, conscientemente, sabemos que temos
marcas que nos acompanharão pela vida toda, por que não procuramos cuidar delas
antes que nossas doenças emocionais nos maltratem? Por que corremos o risco de
desencadearmos doenças emocionais de difícil cura e não procuramos auxílio?
Por que a procura pela psicanálise não é feita de forma
habitual?
A motivação
Uma autora me chama muita atenção, cobre-me de ansiedade por uma
busca mais aprofundada sobre a sua obra – a Melanie Klein.
A forma como ela teve seu primeiro contato com a psicanálise
também me chamou a atenção. A cura para sua própria depressão. Afinal, quantas
não são as pessoas que procuram a psicanálise por esse mesmo motivo? E quantas não
fazem isso? Esperam suas doenças emocionais desencadeiem para depois procurar
ajuda.
Melaine Klein, uma das autoras que, em minha opinião, mais
contribuíram para a compreensão do funcionamento psíquico inconsciente depois
de Freud, partiu do seu próprio problema para viabilizar a ampliação do âmbito
da psicanálise para englobar também o campo do início da infância, tornando
possível o tratamento de crianças pequenas.
E são suas hipóteses relacionadas com o primeiro ano da infância
o foco desse meu texto.
As hipóteses
Segundo Melaine Klein, nos primeiros meses de vida, o bebê passa
por estados de ansiedade persecutória, que estão vinculados com a fase de
sadismo máximo. O bebê também vivencia sentimentos de culpa com respeito a seus
impulsos e fantasias destrutivos dirigidos contra seu objeto primário – a mãe
e, acima de tudo, seu seio. Esses sentimentos de culpa dão origem à tendência
de fazer reparação ao objeto danificado.
Aparentemente, tudo começa aí. O sentimento de culpa se instaura
e a criança vivencia o desamparo, criando sintomas para dar conta do novo
sentimento.
Se as crianças passam por isso no primeiro ano de vida e já
formam, portanto, sintomas, é difícil crer que não virarão adultos com doenças
psicossomáticas mais para frente.
Portanto, todas as crianças, desde sempre, não deveriam
trabalhar os processos que as levaram a formar os sintomas?
Não resultariam em adultos menos problemáticos se fossem
direcionadas a isso quando crianças?
Pilares fundamentais da teoria de Melanie
Klein
A teoria de Melanie Klein é
calcada em três pilares. A seguir.
1º pilar – Existe um mundo
interno, formado a partir das percepções do mundo externo. O seio materno,
primeiro objeto de relação da criança com o mundo externo, tanto é percebido
como seio bom, quando amamenta, quanto é percebido como seio mau, quando não
alimenta na hora em que a criança assim o deseja. Como é impossível satisfazer
a todos os desejos da criança, invariavelmente, ela tem os dois registros desse
seio, um bom e um mau.
2º pilar – Os bebês sentem,
logo quando nascem, dois sentimentos básicos: amor e ódio. É como se a vida
fosse um filme em branco e preto, ou se ama, ou se odeia. É fácil, portanto,
perceber que a criança ama o seio bom e odeia o seio mau. A questão é que na fantasia da criança, o seio mau vai se
vingar dela pelo ódio e destrutividade direcionados a ele. Esse medo de
vingança é a ansiedade persecutória. Quando nos defrontamos diante de um perigo, temos o
instinto de fugir. Essa reação diante do perigo é chamada, em psicanálise, de
defesa. O conjunto de ansiedade persecutória e
suas respectivas defesas são chamados, por Melaine Klein, de posição esquizoparanóide.
3º pilar – Com o
desenvolvimento, o bebê percebe que o mesmo objeto que odeia (seio mau) é o mesmo que ama (seio bom). Ele percebe que ambos os
registros fazem parte de uma mesma pessoa. Agora o bebê teme perder o seio bom,
pois teme que seus ataques de ódio e voracidade o tenham danificado ou morto.
Esse temor da perda do objeto bom é chamado, por Melanie Klein, de ansiedade depressiva. O conjunto de ansiedade depressiva e
suas respectivas defesas do ego são
chamados por ela de posição depressiva.
Evolução da psicanálise a partir de Melanie
Klein
A psicanálise de Freud mostrou
o papel da interferência de fatores inconscientes na operação da racionalidade
e sugere que estes opõem obstáculos ao estabelecimento de um contato
satisfatório com a realidade.
Ele relatou que todos os
problemas advindos da interferência desses fatores inconscientes se originavam
na infância.
Freud, em sua história
publicada em 1909, sobre o pequeno Hans, demonstra ter sido, mais uma vez,
precursor, na medida em que foi o primeiro a usar o tratamento psicanalítico
para cuidar de uma criança.
Mas foi a psicanalista, sua
aluna e discípula, Melanie Klein a primeira a realizar, na prática, estudos com
crianças.
Para Klein, o psiquismo tem um
funcionamento dinâmico entre as posições esquizoparanóide e depressiva, que se
inicia como o nascimento e termina com a morte. Todos os problemas emocionais,
como neuroses, esquizofrenias e depressão são analisados a partir dessas duas
posições.
Por isso, em uma análise kleiniana, não se
trata de trabalhar os conteúdos reprimidos, é preciso equacionar as ansiedades depressivas e ansiedades persecutórias.
É necessário que o paciente perceba que o mundo não funciona em preto e branco
e que é possível amar e odiar o mesmo objeto, sem medo de destruí-lo. Sendo
assim, não adianta trabalhar o sintoma (neurose) se não se trabalharem os
processos que levaram ao seu surgimento
(ansiedade persecutória e ansiedade depressiva).
As principais contribuições de Klein estão em sua ênfase sobre a
importância das relações de objeto iniciais, a demonstração da função do
superego no desenvolvimento psíquico, sua descrição das defesas primitivas,
características do transtorno de personalidade limítrofe e psicose, e seu uso
do brinquedo como um meio para a interpretação das reações das crianças.
Melanie Klein ampliou a compreensão dos psicanalistas sobre os
fatores que dificultam o auto-conhecimento ao mostrar que, além de conteúdos da
consciência, funções mentais podem ser suprimidas para lidar com experiências
que ameacem a integração do ego.
A mãe da psicanálise
A Melanie Klein foi uma freudiana que, ao longo da sua obra,
enfatizou a importância das relações objetais, sobretudo no primeiro ano de
vida, e contribuiu amplamente para a psicanálise contemporânea e não apenas no
âmbito da sua aplicação a crianças.
A sua obra não só representa uma valiosa e frutífera expansão do
pensamento psicanalítico, como deita luz sobre novos caminhos para o
conhecimento da psique humana.
O interesse de Melanie Klein pelos mecanismos psíquicos que
ocorrem nos primeiros meses de vida a conduziu para um melhor entendimento dos
processos presentes nas depressões, nas esquizofrenias e nas neuroses. Dessa
forma, ela contribuiu fortemente para a ampliação do âmbito de aplicação da
psicanálise, uma influência que ainda se verifica atualmente, pois a aplicação
deste modelo terapêutico, a crianças e a formas mais graves de psicopatologia, era
um campo pouco desenvolvido antes dela. Os psicanalistas devem a ela as frases
“acabou-se o paraíso da criança” e “a cura da neurose infantil é a melhor
profilaxia contra a neurose do adulto”.
A busca mais aprofundada
Busquei me aprofundar mais nas hipóteses de Melanie Klein,
relacionadas com o primeiro ano da infância, pelo fato de eu apoiar o seu
seguinte relato: os problemas advindos da interferência de fatores
inconscientes se originam na infância.
“A cura da neurose infantil é a melhor profilaxia contra a
neurose do adulto”.
Para mim, essa parece ser uma verdade.
Se os problemas da interferência de fatores inconscientes se
originam na infância, então, é necessário que, cuidando da criança, haja uma
mãe capaz de transformar os aspectos perturbadores das novidades, que,
constantemente, se apresentam aos filhos, em algo tolerável, criando condições
para o seu desenvolvimento e crescimento emocional.
Se isso é verdade, então, as pessoas não deveriam se deparar com
o processo de psicanálise desde sempre?
Como poderia uma mãe ser capaz de transformar os traumas dos
filhos em algo tolerável se nem ela mesma é capaz de superar os seus próprios?
Não deveríamos, já nos primeiros anos de vida, passar a
investigar e evidenciar o significado inconsciente das nossas palavras, ações,
sonhos, etc., a fim de evitarmos que doenças emocionais venham à tona e nos
maltratem mais lá adiante?
A constatação de Melanie Klein de que os bebês têm dois
sentimentos básicos: amor e ódio – e de que se sentirão bipolares em seu
primeiro ano de vida deveria ser motivo suficiente para que buscássemos a
superação desse trauma desde sempre, de modo que aprendêssemos, já na infância,
que há sentimentos outros, que derivam desses primários, mas que são passíveis
de serem sentidos e que nos fazem sofrer menos, maltratam-nos muito menos do
que se sentirmos apenas amor ou ódio.
O mundo não funciona em preto e branco e é possível amar e odiar
o mesmo objeto, sem medo de destruí-lo.
Acredito que a nossa experiência emocional seja infinita, que a
nossa vida emocional possa ser ampliada por meio do aprofundamento das nossas
emoções.
Portanto, se nós nos deparamos, mesmo sem saber, com as nossas
emoções desde os nossos primeiros anos de vida, talvez possamos, por meio de
sessões de psicanálise, desde essa época, acessar o nosso sub inconsciente, tão
poderoso e tão útil para a nossa proteção e equilíbrio pessoal.
É nele que estão todas as informações do nosso passado. Com sua
capacidade infinita, armazena estímulos e mensagens sem que a gente se dê conta
disso. Portanto, é nele que temos que buscar a origem das nossas agruras.
O que me chama a atenção em Melanie Klein e no desenvolvimento
do seu pensamento é o fato de ela ter se preocupado com a infância e de ter
desenvolvido a técnica de análise com crianças, tratando o desenvolvimento
psicológico nos primeiros anos de vida, raiz das neuroses e das psicoses
adultas.
Foi ela uma das psicanalistas que preparou o terreno para o
desenvolvimento da psicanálise com os bebês. Ela, inclusive, achava que a
análise com crianças deveria ser conduzida tão longe fosse necessária e que o
complexo de Édipo deveria ser explorado em profundeza.
Queria crer que é possível que consigamos difundir, ainda mais,
a ciência “psicanálise” e que ela transcenda a questão “cultural” de modo a
entrar na vida das pessoas como algo natural, necessário para que nos tornemos,
a partir de nós mesmos, do nosso auto-conhecimento, das nossas descobertas
sobre nós, seres humanos mais bem resolvidos, mais psiquicamente estruturados,
menos maltratados pelas doenças emocionais, que vão destruindo o nosso
organismo.
Acredito, piamente, sobretudo ao ter lido um pouco mais a obra
de Klein, que a busca pelo nosso resgate emocional tem que ser iniciada em
nossos primeiros anos de vida.
As mães têm que estar mais preparadas para cuidarem de seus
bebês, sabendo o que acontecerá em cada momento de sua existência, podendo,
portanto, contribuir com o desenvolvimento de suas crianças ao irem mostrando a
elas que o mundo não funciona em preto e branco apenas.
Há muito mais cores e luz no fim do túnel.
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