“Os olhos de ambos se encontram, se perdem, conectam e se desconectam.”
Ana Paula Yazbeck um dia escreveu: “os olhos de ambos se encontram, se perdem, conectam e se desconectam.”
Estava falando da relação
de uma mãe com seus filhos adolescentes.
E lidar com essa
realidade é passível de deixar a nossa integridade psíquica rasgada.
A dependência emocional
do ser humano é algo extremamente natural e ela se torna negativa quando fixada
em outra pessoa que não nós mesmos.
Fazemos isso aos montes,
sobretudo com os nossos filhos. Damos a eles a responsabilidade de lidar com os
nossos próprios caprichos e inseguranças e achamos que devem ser sempre gratos porque
os geramos, cuidamos, contribuímos para que sobrevivessem e chagassem até aqui.
No final das contas,
somos como narcisistas, pessoas ressentidas porque suas expectativas a respeito
de uma resposta esperada do outro não foram atendidas como queriam.
Sentimos mágoa, rancor,
angústia. Quantas mães não adoecem, ficam em depressão, têm transtornos de
ansiedade porque seus filhos não correspondem aos seus reiterados atos de amor
verdadeiro? Inúmeras.
Temos a convicção de que
o nosso amor é incondicional e altruísta. Sofremos quando nossos filhos sofrem,
nós os perdoamos sempre, mesmo da indiferença, ficamos felizes quando estão
alegres.
Já escrevi isso em outro
texto. Uma das analistas brilhantes que passou pela minha vida me disse o
seguinte: “não há amor altruísta, nem o de mãe. Nós queremos que nossos filhos
nos amem de volta.”
Nunca me esqueci dessa
frase. Ela me pegou em cheio. Eu, como tantas outras mães, usava esse discurso
do amor caridoso, bondoso, sem expectativas. Mas caí na real. Quero sim ser
amada de volta. Quero sim que minha filha não me seja indiferente, quero que
ela saiba, e reconheça, o quanto torço pelo seu bem.
Mas o áudio não bate com
o vídeo. Tudo não passa de autoengano.
A constituição psíquica
de nossos filhos advém de uma organização cultural e social, de dinâmicas familiares
que permitirão, ou não, um terreno propício às suas constituições. Eles se
apropriam de sua própria história por meio dos processos de transformação e vão
se individualizando.
E chega a
adolescência. Uma fase de altos e
baixos, um período desafiador e marcado por momentos diferentes. É a transição
entre a infância e a vida adulta.
O autoamadurecimento não
é rápido e nem fácil.
O bebês sim, dão saltos
de desenvolvimento super bem pontuados, mas a fase da adolescência é mais
ambígua e seus efeitos muito mais marcantes em nossas vidas.
Foi assim com a gente. É assim
com os nossos filhos.
Nós não os reconhecemos,
enfrentamos muitas dificuldades ao lidar com eles. As crianças que conhecíamos
se transformaram em outras pessoas, com atitudes e gostos diferentes.
A pré-adolescência marca
o começo da puberdade: o corpo se transforma, o crescimento psíquico acontece e
vem a maturação das questões sexuais. O contexto é de muita confusão. Em muitos
casos, estão vivenciando sua primeira crise interna.
E como ficamos nós, que
também nos tornamos ainda mais confusos nessa fase?
É preciso dar a eles o
espaço que precisam para que aprendam com sua própria experiência, acertando ou
errando. Assumamos o nosso papel de intervenção quando eles desafiam o perigo,
descrevendo as vantagens e desvantagens dos seus atos, assim como as
consequências. Entendamos suas razões antes de criticarmos suas ações.
Conversemos. Aproveitemos os momentos para termos bate-papos prazerosos e
relaxados.
Somos pais e mães, acima
de tudo, mas a amizade é o melhor remédio para um ambiente familiar saudável.
Eles nos amam acima de
tudo?
Eu acredito no seguinte: eles
vieram para a nossa vida para que aprendêssemos a amar alguém além de nós mesmos.
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