Essa crônica (segundo o meu
pai, esses textos que escrevo são crônica) é uma homenagem a uma grande amiga
minha, mas que, infelizmente, não vejo com a frequência que gostaria. Aliás,
quase nunca nos vimos nos últimos anos. Mas quando, eventualmente, nós nos
vemos, é como se nunca tivéssemos deixado de conviver. Estou falando da Rosana.
Nós nos conhecemos em 1993, no Mackenzie. Ela parece ser a fã número um do meu
Blog. Segundo ela, todos os dias, pela manhã, dá uma entrada nele para ver se
tem péLôlas novas. Ontem, ela me mandou um e-mail, elogiando a iniciativa, e me
lembrou de uma história que vivemos, juntas, em 1995. Acho que foi sim nesse
ano. Detalhe...nessa história, a pérola foi dela. Na época, eu ainda trabalhava
com Comércio Exterior, lá na Personal Cargo. Acho que essa empresa nem existe
mais. A Rô, se não me engano, já estava na empresa onde trabalha até hoje. Se já
não estava lá, então, estava no Deutsche Bank. Para vocês verem que essa
história é bem velha. Aliás, os anos passam, já diriam os tobogãs, né? Em
novembro desse ano, tive uma desilusão amorosa, aliás, a mesma dos últimos
quatro sempre. Todo ano, desde de 1991, eu tinha a mesma desilusão, inclusive
com a mesma pessoa. Aquela coisa...my first Love...there’s only you in my
life...Em novembro de 1995, resolvi que era a última vez que passaria por
aquilo, por aquela sensação de rejeição, pelo menos com aquele ser seria a
última vez...kkkkkk...e, para relaxar, desencanar, enfim, esquecer, resolvi ir
viajar. A desilusão com os nossos primeiros amores é tão grande que a gente não
consegue disfarçar. No meu caso, o não disfarce foi bom. A Robélia e o Renato,
na época meus chefes, foram umas graças. Eles me deram, vejam só, uma passagem
para Miami. Acreditam? Foi a primeira e última vez que isso aconteceu comigo.
Nunca mais ganhei uma passagem de ninguém. Aliás, hoje, que tenho diversas
milhas, dos meus diversos pontos super turbinados, não consigo transformá-las
em passagens. Eu até consigo ir para os Estados Unidos e levar a minha família,
mas eu teria que ir em um dia, a Laís em outro e o Luiz uns três dias depois. Já
pensaram a Laís, com três anos e meio, sozinha, desamparada num avião? Como
seria quando chegasse na alfândega dos Estados Unidos? Talvez, ela até se
virasse com seu vasto inglês...I Love Youtube...enfim, chega a ser ridículo.
Eu, de verdade, acho que a possibilidade de trocar milhas por passagens aéreas,
nos dias de hoje, é uma farsa. Mas isso é assunto para outra “crônica”. Adorei
saber que escrevo crônicas!!! Sempre vou frisar isso daqui pra frente, viu,
pai. Voltando ao tema inicial. Ganhei a viagem, mas não podia ir sozinha. Num
rompante, lá no Mackenzie, perguntei para a Rosana se ela não queria ir comigo.
E ela disse: “YES!” Nossa, deu tudo certo. Ela bateu um papo com o Felipe, na
época, seu namorado e atual marido, e os dois se acertaram. We were free to hit
to Miami. Nós só podíamos ficar por lá por cinco dias. Era o tempo de ir,
esquecer a desilusão, por meio de compras e mais compras, é claro, e voltar. E
lá fomos nós. Tem um fato importante, que não pode deixar de ser relatado. Nós
éramos duras. Eu só tinha a passagem e uns poucos dólares. Tinha um salário
compatível com o meu nível na época, isto é, quase nenhum. Nem acho que tinha
um cargo na Personal Cargo. A Rosana idem. Mas até que ela tava melhor do que
eu. Caso contrário, não teria voltado para o Brasil com sete pares de
sapatos...kkkkk...Em função da dureza, tivemos que optar por comer, comprar
sapatos ou ficar num hotel de menos de duas estrelas, estrelas, eu diria, até
cadentes. Optamos por ficar em MIAMI BEACH. Achamos que seria cool. Pareceu
muito chic o que fizemos...MIAMI BEACH ART DÉCO. Mas foi tudo, menos chic.
Chegamos em MIAMI muitíssimo cedo. Super cansadas. Não dormimos nada na viagem.
Pegamos um taxi para o hotel, rezando para não sair muito caro. Finalmente,
chegamos. Era longe pra cacete. Lá se foram as nossas primeiras verdinhas.
Dividíamos tudo. Chegamos ao hotel lá pelas 6h da manhã. A fachada já não era
lá grandes coisas. Mas tudo bem, ele, pelo menos, ficava de frente para o mar,
mas era basicamente isso que ele oferecia. No nosso caso, nem isso, pois a
janela do nosso quarto ficava virada para um telhado velho de outro hotel velho.
Lembra-se, Rô? Quando entramos no recinto, no Hall do hotel, foi um
choque...deu até medo. Nós nos calamos, olhamos a cena e não acreditávamos que
estávamos ali e que lá ficaríamos por cinco noites. O lugar era bagaceira
total. Tinha um ventilador de teto rodando, numa velocidade irritantemente
lenta. O lugar estava cheirando a cigarro e álcool. Aquilo não podia ser o Hall
de um hotel, mas talvez uma pista de uma boate de quinta. Aliás, soubemos, um
pouco depois do susto, que a balada, lá dentro, tinha acabado de acabar. Fez
sentido. Eram 6h da manhã, MIAMI BEACH, drugs, alcohol e SALSA...que Rock and
Roll que nada. Visualizaram a cena? Foi show de horror. Mas não tínhamos o que
fazer. O dinheiro que tínhamos dava para aquilo, os sete pares de sapatos da Rô
e, basicamente, isso. Encaramos o recepcionista, que tinha, com toda certeza,
estado na festa, como participante, a madrugada toda. Preenchemos aquele papel
chato e, finalmente, fomos tomar posse do nosso lindo quarto. Acho que nem
preciso descrever o quarto, né? Só um pequeno detalhe. Carpete mostarda,
lençóis brancos, nas duas camas, vista para o telhado lixo do hotel vizinho e
um banheiro só com banheira, sem chuveiro. Mas o cansaço era tanto que a gente
deitou, cada uma em uma cama, e NÃO DORMIMOS. Quem conseguiria dormir depois de
ter presenciado e ter se dado conta do que seria a nossa vida durante aqueles
cinco dias. Acho que 15 minutos depois, nós nos levantamos, encaramos um banho,
escovamos nossos dentes e saímos daquele lugar. A idéia, já que seria
inevitável mudarmos de hotel, era só voltar para lá para dormirmos. E saímos
andando, catatônicas, pelas ruas de MIAMI BEACH. Como estávamos com fome,
resolvemos parar para comer em um Diner, que, na verdade, era um trailer. Ele
ficava bem perto do hotel. Deveriam ser umas 7h30 quando nos sentamos para
comer algo. Só ali, sentadas, voltamos a nos falar. Só lá, conseguimos comentar
tudo que tinha acontecido até aquele momento. E, obviamente, rimos muito, muito
mesmo. Bom, chegou a nossa garçonete fofa. “How can I help you today, girls?” Os
americanos sempre falam com a gente como se já nos conhecessem, né? É tanta
simpatia. Mas eu não posso falar muito mal deles não. Concordo com o meu marido
quando ele diz que os americanos são geniais na boçalidade deles. E
são mesmo. “Yes, Ma’am. I would like these plain pancakes and diet coke…and
lots of syrup, please!” Adoro
comer isso nos Estados Unidos. Adoro tomar diet coke com plain pancakes. Show.
E chegou a vez da Rosana fazer seu pedido. “And I would
like some FRENCH FRIES!” “FRENCH FRIES?” Essa foi a pergunta da meiga
garçonete. E emendou...”Would you like some coffee to go with it?” Eu já estava achando aquele diálogo
muito maluco. Batata frita com café? Às 7h30 da manhã? Enfim, mas como tenho as
minhas manias gastronômicas quando estou nos Estados Unidos, por que a Rosana
não poderia querer batatas fritas logo cedo. Pode até ser que café vá bem com
batata frita. E, quem sabe, o ketchup não dê um toque ainda mais especial? A
moça foi embora, mas voltou logo depois. Ela disse para a Rosana...(vou fazer a
tradução para o português)...”Queridinha, eu só preciso dar uma olhada lá
dentro para verificar se a nossa frigideira já está ligada e se o óleo já está
quente. Você pode aguardar um pouco?” E a Rosana respondeu...”claro, espero
sim.” Caramba, pensei. A Rosana vai mesmo encarar uma porção, americana, de
batata frita com café preto. Tá maluca. Mas depois de tudo que tínhamos
passado, aquilo era estranho, mas menos estranho do que pensar que teríamos que
voltar para aquele hotel para dormir. E continuamos a nossa conversa, já mais
relaxadas. Depois de uns minutos, a Rô parou o que estava dizendo e olhou para
mim com um ar estranho. “Que foi, Rosana, tá tudo bem?” “Lô, você não sabe!” “O
que foi, Rô?” “Acho que eu pedi batata frita ao invés de pedir FRENCH TOAST.”
Eu quase morri naquela hora. “Não diga, Rosana?” “Você não queria comer batatas
fritas às 7h30 da manhã?” “E o café com Ketchup, cancela também?” E ela entrou
em pânico...a mulher não tinha voltado mais. Caramba...achei que a frigideira
já estava quente e as batatas logo chegariam. Nós quase morremos de tanto rir.
Foi sensacional. Desse momento em diante, a nossa viagem começou. O nosso
hotel, virou cinco estrelas, nós nos divertimos, em apenas cinco dias, como se
tivéssemos ficado um mês fora do Brasil, da nossa realidade, só passeando. Só
para que saibam...a moça voltou a nossa mesa e disse que, infelizmente, não
conseguiria atender o pedido da batata frita, pois o óleo demoraria para ficar
quente. A Rosana falou...”Não tem problema, a gente volta outro dia e eu como
as batatinhas. Fique tranquila.” “Vamos fazer o seguinte? Eu vou trocar as
batatas por French Toasts. Vocês têm French Toasts? São boas? Pode trazer, eu
me contentarei com elas hoje.” A garçonete ficou toda feliz por não ter deixado
sua nova cliente frustrada. Ela ainda perguntou para a Rosana...”E você ainda
vai querer o café?” Essa pergunta, se pensarmos bem, também foi muito boa. Era
como se, na cabeça da garçonete, a Rosana quisesse tomar o café, mas só se
fosse acompanhando as batatas fritas. Só de escrever essa história estou
morrendo de rir. Acho que não devo ter conseguido passar o quão divertido foi,
mas foi muito, muito mesmo. E para finalizar, naquele dia, no primeiro dia,
voltamos para o hotel só à noite. Andamos o dia todo. Não tínhamos tempo a
perder. Quando chegamos, adivinhem? A balada estava começando. Quem disse que a
gente conseguiu dormir durante as cinco noites? Balada geral...no nosso hotel,
no hotel do lado, na praia, enfim. MIAMI BEACH ART DÉCO novamente? Só de carro.
Nunca mais dormi naquele bairro. Mas confesso que sempre que vou para MIAMI,
lembro-me desses cinco dias. Foram inesquecíveis. Valeu, Rô, por ter ido comigo
e por ter me feito rir tanto. Voltei zerada para o Brasil. Você também me
inspirou e continua me inspirando. É uma grande amiga para mim. Quanto
as seus sete pares de sapatos...acho que você mesma pode contar essa história
aqui no Blog. Também valerá a pena lembrar dessa epopeia.
Chorei! Kkkk
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