Perseguição na Avenida Jornalista Roberto Marinho, antiga Águas Espraiadas!

A Denise e o Beto fazem aniversário no mesmo dia, 23 de julho. Não poderia ser diferente, já que são gêmeos...bivitelinos, mas super gêmeos. No dia 22 de julho de 2000, que era um sábado, fizeram, juntos, uma festa de aniversário na antiga casa onde moraram com seus pais e com a Pati, irmã deles. O Sr. Gilberto, pai dos três, naquela época, usava a casa como seu escritório, endereço comercial. A residência, por sinal, era ótima. Super espaçosa, ótima para uma festa daquelas, dos gêmeos, que convidaram amigos em comum, mas também amigos não comuns aos dois...tinha gente à beça. Eu já trabalhava na Siemens naquele ano. Aliás, quem me levou para a Siemens foi a Denise. Ela, a Pati e a Ivete, mãe dos três, eram minhas alunas. Eu dava aula de inglês para elas. Primeiro, tivemos essa relação profissional, depois, fomos nos tornando muito amigas e depois, amigas inseparáveis. Foi uma época muito boa da minha vida. Época em que batíamos ponto em Amparo. Super época. Bom, a Denise levou meu CV para a Monika Sengberg, que, em abril de 2000, contratou-me para a área de Marketing da Divisão de Telecomunicações. O Guido Peters, um expatriado alemão, que veio morar no Brasil para tocar a área de BI do Marketing, tinha acabado de chegar ao país e como ainda não estava enturmado, eu o convidei para ir à festa da Denise e do Beto comigo. Aliás, já falei sobre o Guido nesse Blog. Ele sempre foi um cara muito legal. Nós sempre gostamos de conviver com ele, pois ele era agradável, sempre procurava aprender sobre nós, brasileiros, conhecer nossa cultura, adaptar-se a ela. E fez isso muito rapidamente. Eu o convidei e ele aceitou. Combinei de pegá-lo, em seu Flat, na Cidade Jardim, às 20h, e de, depois da festa, levá-lo de volta. Antes que pensem que nós tínhamos algo um com o outro...podem tirar o cavalinho da chuva...não tínhamos não...éramos apenas colegas de trabalho. Na época, meu lado Madre Tereza de Calcutá, cheia de boas intenções, com obras de caráter, verdadeiramente, nobres, era ainda mais aguçado. O Guido foi uma dessas obras nobres. Eu o ajudei bastante aqui no Brasil. Com muito prazer, pois ele era uma pessoa excepcional. Mas nunca nos gostamos como homem e mulher. Acabamos, sim, passando de colegas para bons amigos. Naquele dia 22, peguei o Guido em seu Flat e o levei comigo para a festa. Eu tinha avisado que o levaria. Todos o esperavam. Um estrangeiro, ainda mais naquela época, sempre é algo diferente, interessante, misterioso. Todos queriam conhecê-lo melhor. E isso aconteceu...ele interagiu com os convidados, divertiu-se, com certeza, e passou a fazer outros amigos no Brasil. Era difícil não gostar dele. Ele era genial na sua boçalidade...parecia, na verdade, um americano. Há muitas histórias sobre o Guido, mas vão ficar para outras crônicas. Num determinado momento da festa, o Guido me pediu para levá-lo embora. Acho que já era quase 1h da manhã. Eu falei que o levaria, pois tinha combinado isso com ele. Como eu queria voltar para a festa e não queria ir sozinha levar o Guido, chamei um amigo meu, o Ricardo (Ricky) para ir comigo e depois voltar. E lá fomos nós, nós três, a caminho da Avenida Cidade Jardim. Deixamos o Guido no hotel e voltamos para a festa da Dê e do Beto. A festança ainda estava bombando, todos continuavam lá, exceto o Guido, que, cansado, provavelmente por estar acostumado com a sua vida na Alemanha, onde comia suas batatas, às 17h, no jantar, e ia dormir às 20h, quis embora cedo. Brincadeira!!! Além das batatas, ele também devia tomar cerveja quente às 17h...e era depois disso que o sono vinha, cedo, com toda força. O Ricky, para que saibam, era um amigo de infância da Denise e do Beto e acabou ficando muito amigo da gente, da turma toda que fizemos na época da Siemens. Ele também foi trabalhar lá na empresa, também por intermédio da Denise, que era, praticamente, a Headhunter oficial da organização. Enfim, a festa foi até altas horas. Madrugada a dentro. Lá pelas 4h, resolvi ir embora. Eu morava bem perto dali, ainda com os meus pais. O combinado com eles era que eu sempre ligasse antes de sair do lugar, da festa onde estava, para que me esperassem e, assim que eu desse duas buzinadas, abrissem o portão de casa. Detalhe, ele colocaram portão eletrônico em nossa residência depois que o Leandro e eu nos casamos e não mais morávamos lá. Até hoje não entendi o racional...acho que nem eles...mas enfim. E foi assim que fiz...liguei para eles e disse que estava saindo da festa. Depois de uns 5 ou 10 minutos, já deveria estar buzinando pra eles abrirem o portão. Peguei o meu carro, que estava estacionado em frente à casa, liguei-o, manobrei-o e segui. Aquele lugar era bem ermo. Era na época e continua sendo. Tudo muito escuro. De madrugada, então, parecia desabitado. Ninguém nas ruas. Fui seguindo, sozinha, bem devagar, pois cruzaria uma avenida e não queria ficar parada no farol até que ele ficasse verde. De repente, noto um carro entrando na rua onde eu estava. Detalhe. Só havia o meu carro e eu naquela rua, não havia nenhum outro ser e nenhum outro carro por perto. Quando vi aquela luz vindo lá de longe, em minha direção, gelei. Já foi me dando aflição e dor de barriga. A gente só pensa em coisa ruim, né? Por que não achar que a pessoa iria cruzar a avenida, tanto quanto eu, e iria para sua casa dormir, tanto quanto eu iria para a minha? Mas nada disso passou pela minha cabeça, só coisas ruins. E o carro veio vindo. A pessoa não parecia estar preocupada em ir devagar, para não ficar, a esmo, parada no farol vermelho. Veio vindo com uma certa velocidade. Eu, com medo, resolvi não ficar ali. Avancei com o carro, fiquei em cima da faixa de pedestres e, não tive dúvidas, virei à direita no cruzamento daquela avenida, que era, extremamente, movimentada, mesmo que às 4h da manhã. A minha idéia era ir para a Av. Jornalista Roberto Marinho, conhecida como Águas Espraiadas, pois lá deveria ter mais movimento, mais gente nas ruas. E fiz essa maluquice. Entrei na Washington Luiz e dirigi, rapidamente, até a Roberto Marinho. E sabem o que aconteceu? Aquele carro, que estava atrás de mim, naquela rua vazia, fez a mesma coisa. Virou, também à direita, na Washington Luiz e continuou me perseguindo. Entrei nas Espraiadas e ele também entrou, acelerei, e a pessoa também acelerou...virei à direita, acho que na Zacarias de Goes, e o carro também virou...desespero total, eu tremia, nem conseguia mais dirigir direito...eu só queria ir para casa, mas tinha alguém me seguindo e eu não conseguia despistar a pessoa. Foi aí que resolvi começar a ligar para os meus amigos, para aqueles que estavam na mesma festa que eu. Liguei para a Denise, para ver se eu podia ir para o apartamento dela e colocar o carro, diretamente, na garagem...ela não atendeu...liguei para o Beto...nada...liguei para a Pati, nada...liguei para a Carlinha, nada...liguei para o Sílvio, nada...só dava caixa postal em todos os celulares...filme de terror. Enquanto isso, eu ia dando voltas nas ruas do Campo Belo, voltava para a Espraiadas, corria e o carro continuava atrás de mim. Eu não quis ligar para os meus pais, pois não queria preocupá-los. Aliás, eles já deviam estar preocupados, pois essa brincadeira já durava mais de quarenta minutos. Comecei a correr mais. Lembro-me de ter decidido ir em direção à Marginal. Não fui em direção à minha casa, que era o caminho oposto, pois fiquei com medo da pessoa querer nos assaltar quando chegássemos lá. O meu pai estaria no portão. Poderia ser perigoso. Em meio ao desespero, como uma última tentativa antes de ir em direção a alguma delegacia, lembrei-me de ligar para o Ricky, que também estava na festa e devia já estar em casa, pois tinha saído de lá comigo, há uns quarenta, cinquenta minutos. Procurei, tremendo, mas consegui achar o telefone do Ricky no celular. O telefone tocou poucas vezes até que ele atendesse. “Oi, Loraine!” “Oi, Ricky! Você já está em casa?” “Preciso de ajuda...tem alguém me perseguindo desde que eu deixei a casa da Denise...não consigo chegar em casa...estou com medo!” “Loraine, sua doida, claro que não estou em casa, sua maluca, estou tentando te seguir até a sua casa...você não me pediu isso na volta do Flat do Guido?” “Sua FDP...tá maluca?” “Se queria voltar para o Flat do Guido, porque me pediu para te seguir até em casa...você é mesmo muito doida, Lô!” “Kkkkkkkkkk!” Eu não conseguia parar de rir. A pessoa me seguindo e copiando as minhas maluquices no trânsito era o Ricky. O pior? Eu tinha combinado com ele que ele me seguiria até em casa, depois da festa, para que eu não fosse sozinha até lá. Mas eu tinha me esquecido, completamente, do combinado, completamente. Ele estava puto da vida. Nesse ínterim, fui desacelerando e ele também...fiz o contorno, em uma das brechas à esquerda da Espraiadas, e virei, sentido Aeroporto de Congonhas,...o Ricky continuava me seguindo...fomos desacelerando até que paramos, literalmente, paramos os carros um ao lado do outro, no meio da Roberto Marinho...abrimos os vidros, eu do passageiro e ele do motorista, olhamos um para o outro e rimos, rimos de chorar de rir. A gente não conseguia falar nada, só rir. Ele me xingou muito e me disse que eu estava cada vez pior. Mal sabe ele sobre o que tenho aprontado nos dias de hoje, pois faz tempo que não nos falamos e não nos vemos. Enfim, conseguimos nos concentrar, pedi desculpas a ele, com todas as minhas forças, e seguimos até a minha casa, bem devagar, sem pressa. Quando chegamos lá, os meus pais, é claro, estavam na garagem, de cabelos em pé, super preocupados. Ligaram no meu celular várias vezes, mas só caia na caixa postal, provavelmente porque eu estava tentando falar com aquelas mil pessoas durante a perseguição. Contamos tudo a eles. Eles, depois da raiva, também riram. O mais ridículo dessa história toda foi o Ricky ter achado que eu, com aquela correria toda na Espraiadas, estava tentando despistá-lo para poder voltar para o Flat do Guido. Muito doido esse Ricardo. Se eu quisesse encontrar o Guido, por que o teria chamado para ir comigo levá-lo ao hotel no meio da festa? Incoerente, não? Depois dessa loucura toda, pensamos, durante muitos anos, em contar essa história no programa Retrato Falado, da Denise Fraga. A questão é que o programa nada mais era do que histórias fictícias, contadas a partir de trechos reais. E a nossa história não tinha nada de fictícia e os seus trechos eram mais do que reais. A Globo precisaria de um Fantástico inteiro para reproduzir aquelas cenas bizarras, que foram contracenadas por nós dois. Aliás, Ricky, onde anda você? Saudades! Espero que leia essa crônica e contribua com ela. Mas acho que não esqueci de contar nenhuma parte da nossa aventura daquele dia 23 de julho de 2000. Às 4h, já não era mais dia 22, né?

Comentários

  1. Demais Lo!!!!!!!!!! Bjs - Rosana

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  2. Muito, muito boa! Mas, sem surpresas, ... é a sua cara!!! rssrsrsrs Depois de ler, lembrei do copo com gelo, dentro da bolsa no antigo Maria João, em Alphaville, ... lembra???

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  3. Lô ri sozinha lendo essa historia e lembrando de tudo tin-tin por tin-tin como você mesmo contou. Não faltou nenhum detalhe !!!
    Tempos muito bons e inesquecíveis!! Saudades enorme.. Beijos da Pati que participou desse momento comico e muito bom....

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