A cola Loctite Super Bonder e os brinquedos Multibrinki...não dão liga!!!

Algum tempo após a festa de aniversário de um ano da Laís, que foi no dia 5 de dezembro de 2009, resolvemos que era hora de abrirmos um dos presentes que ela havia ganhado. Não tínhamos aberto ele até então porque achávamos que ela, com apenas um aninho, não daria o devido valor ao presentão. Resolvemos esperar que ela crescesse um pouco mais. O presente era uma Barraca, de pano, da Turma da Mônica, da Multibrinki. Vocês verão, mais adiante, que a menção ao fabricante não está sendo em vão. No próprio dia 5 de dezembro, nós escondemos a Barraquinha, ainda na caixa, no armário. Pois bem, em julho de 2009, num sábado à noite, decidimos que a Lála estava pronta para brincar com a casinha. Não me lembro bem agora, mas imagino que, provavelmente, naquele dia, ela devia estar inquieta e nós já tínhamos tentado de tudo...só deve ter nos restado o raio da Barraca da Turma da Mônica. Ainda morávamos no outro apartamento. Deviam ser umas 17h30, por aí, quando o Luiz resolveu montar a tenda. Eu, enquanto o Luiz abria a caixa na varanda, brincava com a Laís na Sala de TV. Aposto que estávamos vendo os Backyardigans ou algo do gênero. Depois de alguns minutos, a Lála deixou a Sala e foi atrás do pai. Eu tive que ir atrás dela. O Luiz estava sentado, perto da churrasqueira,  ao lado de onde tinha pensado em “armar” a Barraca. A Laís ficou pra lá e pra cá. Eu, cansada, como sempre, desde o dia 1º de dezembro de 2008, dia do nascimento da baby, resolvi sentar perto do Leindo, entre a Sala de Jantar e a varanda. Fiquei olhando o que ele estava fazendo. Ele estava irritadíssimo com a Barraca. “Esse brinquedo é uma droga, nada encaixa em nada. Como um fabricante pode desenvolver algo assim, ainda mais para crianças?” “Eu prendo de um lado e os encaixes da armação soltam do outro...uma droga.” “Não sei como vou fazer para que a gente consiga montar a casinha para a Lála.” “Acho que não vai dar certo.” “Vou mandar um e-mail para o fabricante...blá, blá, blá...” Eu só fiquei ali, ouvindo as lamúrias, a choradeira do Luiz. Enquanto prestava atenção nele, também ficava de olho na Laís, que, para variar, não parava quieta em apenas um. Em um determinado momento, o Luiz se levantou e foi até a cozinha. Eu aproveitei, nessa hora, para também me levantar e ir dar uma olhada, mais de perto, na Lála, que tinha voltado a ver televisão na Sala de TV. Dei um beijinho nela e voltei para a varanda. Quando voltei para lá, o Luiz já estava sentado, de volta de onde tinha ido, de volta do que tinha ido fazer fora dali. E lá ficamos, conversando...quer dizer...ele reclamando da porcaria do brinquedo e eu ouvindo, caindo de sono. A Laís vinha até a varanda, olhava para a gente, dava beijo nos dois, resmungava um pouco, brincava outro pouco e ia andar. Ficou nisso um tempão. Como a sua tendinha não ficava pronta nunca, ela não se fazia de rogada...ia atrás do que fazer. O Luiz continuava puto da vida. Os encaixes da Barraca não se “encaixavam”. O pano colorido, com os desenhos da Turma, era muito curto. Um horror. Nós estávamos indignados. Começamos até a xingar o Maurício de Souza...e com razão. Ele, com certeza, havia dado o direito, à Multibrinki, de usar a imagem da Mônica naquele brinquedo infame. Lembro-me de termos dito: “se estivéssemos nos Estados Unidos, já teríamos montado esse brinquedo há horas...nunca que o consumidor americano ia se sujeitar a algo parecido com isso...” Ele já estava furioso e eu o acompanhei em sua fúria...não podia ser possível uma coisa daquelas. Ficamos, de verdade, furibundos. Mas, como sempre digo, sempre pode acontecer algo pior quando achamos que já estamos afundados na lama. De repente, do nada, sem, é claro, que esperássemos por uma coisa daquelas, surge a Laís, lá de dentro, chorando. Quando eu olhei para ela, não pude acreditar no que vi. Suas mãos estavam grudadas. Não uma na outra. Na realidade, seus dedinhos, os cinco dedos de cada mão, estavam grudados. A mão direita estava um bolo só...a mão esquerda também. Tudo grudado. A boca da Laís estava grudada, cheia de uma coisa branca entre os lábios. Ela não conseguia abrir a boca. Ela chorava, as lágrima escorriam, mas ela não conseguia abrir sua boquinha. “LÁIS, O QUE FOI, FILHA?” “O QUE É ISSO, LÁLA?” “FALE COM A MÃMÃE!” “FILHA!!!” “Luiz, o que está havendo, o que está acontecendo com a Laís...o que é isso nas mãos dela e na boca dela?” E comecei a chorar e a gritar, descontroladamente. O Luiz a pegou no colo e foi correndo para a cozinha. Eu? Eu continuei berrando, gritando, chorando na varanda....até que consegui me mover e fui atrás deles na cozinha. “Luiz, o que é isso, o que está havendo?” “Será que ela ingeriu alguma coisa, será que ela está tendo uma convulsão?” E berrava, gritava, chorava, jogava-me no chão, pulava, esperneava. O Luiz, enquanto isso, estava com a Láis no colo, na frente da pia da cozinha, lavando sua boca e suas mãos com detergente e com água morna. “Loraine, ela ingeriu Super Bonder!!!” “O QUE, SUPER BONDER, A COLA SUPER BONDER?” “É, a cola!” “ELA VAI MORRER, ELA VAI MORRER, SOCORRO, A LAÍS VAI MORRER, SOCORRO, AMORE, MEU DEUS, ELA VAI MORRER, ELA VAI MORRER...” E ele, inerte, impassivo, continuava lavando a Laís com detergente e água quente. “SOCORRO!!!” “EU NÃO VOU AGUENTAR!!!” “O QUE A GENTE VAI FAZER, LUIZ? A NOSSA BABY VAI MORRER!!!” Não sei bem se gritei mais coisas do que somente essas palavras. Nenhum outro vocábulo vinha a minha mente. Inesperadamente, o Luiz solta um berro comigo. “LORAINE, CALA A SUA BOCA E VAI LÁ DENTRO PEGAR A CARTEIRINHA DO CONVÊNIO DA LAÍS!” Eu, imediatamente, calei-me e fui correndo atrás da carteirinha dela. Chutei o sofá, a porta do corredor, derrubei as pastas do Luiz no chão...e, finalmente, achei a carteira. Saí correndo, de volta para a cozinha. Quando cheguei lá, vi que a Lála já estava conseguindo abrir um pouco a boca. Porém, seus lábios ainda estavam brancos...seu dentes estavam brancos...suas gengivas estavam esbranquiçadas, assim como o seu céu da boca. Meu Deus, o que será que vai acontecer com ela? Eu só pensava nisso. Nem reparei em suas mãos...desgrudar os dedos dela era o de menos naquela altura. “Vamos embora, Luiz, vamos para o Einstein.” Saímos correndo, enfiamos a Laís no carro e fomos para o hospital. Não me lembro bem do percurso. Sei que não colocamos a Lála na cadeirinha. Ela foi no meu colo, chorando. Ela chorava e eu também chorava. O Luiz não falava nada, o que era um mau sinal. Eu sabia que ele estava apreensivo. E se ele estava apreensivo é porque sabia que algo sério podia estar acontecendo. Outra demonstração da sua aflição foi o tempo que levou para chegar da nossa casa até o Einstein da República do Líbano. Nós voamos. Em lá chegando, paramos o carro, do jeito que deu, e saímos correndo. Eu, com a Laís no colo, entrei no Pronto Socorro e fui falando, bem alto...“ela engoliu cola, Super Bonder, socorro, ajudem a gente!!!” Imediatamente, passamos na frente de todo mundo, sem senha, sem nada, e fomos para a triagem. Tamanho o nosso desespero, o meu choro, o choro da Laís e a quietude do Luiz, a enfermeira logo nos levou para a sala da pediatra. A minha maior aflição, a todo instante, era pensar no efeito da Super Bonder no organismo da Lála. O que será que estava acontecendo dentro dela? Aquele pensamento estava me matando. Dois pediatras entraram no consultorio. Um deles, uma moça muito tranquila, muito simpática, bastante obesa, lembro-me, pegou a Laís no colo a deitou na maca. “O que aconteceu com essa moça linda, perguntou ela?” Contamos toda a história...aliás, o Luiz contou toda a história aos dois. Eu fiquei quieta, mas muito inquieta. Enquanto a história vinha à tona, os médicos iam esboçando uma risadinha. Eles pareciam tão sossegados, calmos. Demonstraram à gente, nitidamente, por meio de suas feições, que aquela história da Laís não era algo inusitado e que, o mais importante de tudo, ela não era uma situação nada perigosa e nem mortal. Essa foi a leitura que eu fiz do que estava presenciando. A médica terminou de examinar a Laís. Viu sua boquinha, seus dentes, sua gengiva, o seu céu da boca, olhou os dedinhos, que continuavam um pouco grudados, mexeu em sua barriga, no seu pescoço, deu uma geral. Antes de falar com a gente, chamou o enfermeiro e pediu a ele que trouxesse um suco de maça para a Laís. Suco de maçã? Será que a Lei de causa e efeito se aplica à Super Bonder e à maça, pensei? Qual seria essa relação? Será que estava tudo bem mesmo? Depois de ter pedido o suco ao enfermeiro, finalmente, a médica falou com a gente. “Bem, papai e mamãe (odeio essa forma de ser chamada...parece tão pejorativa), sei que ficaram nervosos com o que houve, mas quero pedir para vocês que relaxem, pois a Laís está bem. Ela só vai beber esse suco, que acabei de pedir, e se conseguir engolir todo o líquido, vocês estão dispensados, podem ir para casa. “Só isso?” Tive que fazer essa pergunta. “E todo o poder da Super Bonder?” “Ele não é um produto extremamente tóxico?” “A Laís não está sendo toda colada por dentro, Doutora?” Esses foram os naipes de perguntas que eu fiz no final da consulta. A médica, toda paciente, deu uma última risadinha e explicou: “mamãe (odeio que me chamem assim, credo), em primeiro lugar, o Loctite Super Bonder é um produto de baixa toxicidade. Dos piores acidentes domésticos que podem acontecer com uma criança, “tomar” Super Bonder é um dos menos piores.” “A Super Bonder tem o mesmo princípio da cola cirúrgica. Caso a cola entre em contato com a boca não é para se desesperar. Para remover o produto, o ideal é fazer bochechos com água morna. Umedecer a região com baba, até se desprender, é uma outra forma de remoção da cola. Quando o Super Bonder entra em contato com a boca, ele logo fica sólido devido ao contato com a espuma, grudando, apenas, na superfície da língua e da boca. Por mais intuitivo que seja não devemos tentar puxar as áreas coladas em direções opostas. O importante é nunca entrar em pânico, e sempre procurar um médico.” Nossa, que explicação tinha sido aquela? A Laís estava salva. Nada de grave tinha acontecido com ela. Graças a Deus. A minha filhinha estava bem. O Luiz e eu desmoronamos. Abraçamos a baby e foi uma sensação muito boa. Depois de alguns segundos, levantei a cabeça, olhei para os médicos, que continuavam ali com a gente, e pedi: “não dá para vocês me internarem? Eu não estou me sentindo bem! Acho que vou morrer do coração! Essa história quase me matou pela segunda vez!!!” Ele riam e chamaram, novamente, o enfermeiro...dessa vez, para pedir água com açúcar. Eu tomei toda a água, peguei a Lalá no colo, agradeci a todos, e segui, com ela, para o carro. O Luiz foi atrás da gente. Era como se tivéssemos nascido outra vez. No caminho de volta para casa, não pude deixar de fazer um comentário...“Luiz, não quis dizer nada antes, pois não achei que fosse o caso...mas preciso pontuar que essa história toda aconteceu porque você deixou a Super Bonder dando mole e Laís a acessou.” “Você confessa?” “Sempre tudo acontece comigo, mas dessa vez, você foi o responsável por essa lambança toda.” “É verdade, Leinda, eu, até agora, não sei onde a Laís foi pegar a cola, que eu tinha colocado lá no fundo da churrasqueira.” “Mas o importante é que esteja tudo bem e que tenhamos aprendido com essa cagada que fizemos.” “Fizemos?” Perguntei eu. “Loraine, eu estava muito nervoso.” “E eu, Luiz...ainda não sei se passo de hoje à noite...mas vou tentar!!!” E como vi que ele estava bem abalado, fechei a boca e procurei relaxar. Estava tudo bem com a nossa filhota. Voltamos para casa, demos um banho na Laís, nós a colocamos para dormir e, imediatamente, após tudo isso, nós dois, pegamos a Barraca da Turma da Mônica, da Multibrinki, e a jogamos no lixo, mas não sem antes termos a destruído. Parecíamos dois malucos, reagindo contra algo que tinha nos feito muito mal. Nós nos abraçamos, ainda perto da lata de lixo, e ficamos daquele jeito por alguns instantes. Senti ali, nos braços do Luiz, que eu sobreviveria sim!!!   

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