To be or not to be uma administradora! Eis a questão!!!
Sempre
fui fã da língua inglesa. Isso não é novidade para quem me conhece. Há quem
diga que ela é uma língua difícil, que depois de velho não se pode mais
aprendê-la, que o mundo inteiro só deveria falar português...e uma série de
outras coisas que a gente ouve por aí. Quem me dera só ter que ter aprendido as
parcas conjugações verbais da língua inglesa! Já pensaram na facilidade? E se
nunca tivéssemos que ter aprendido o presente do subjuntivo, o futuro do
pretérito e o pretérito mais-que-perfeito? E se só tivéssemos que ter aprendido
o presente, o passado e o futuro, essa pobreza de tempos verbais da língua
inglesa? Sei que vou parecer arrogante agora, principalmente para aqueles que,
há anos, tentam aprender inglês a partir do verbo to be, mas vou ter que escrever o seguinte: o inglês, no geral, é
uma língua extremamente fácil. E é mesmo. Ela só não é bem ensinada e por isso
parece um bicho de sete cabeças. Mas tá longe, bem longe de ser complexa. Lembro-me
de já ter contado isso no Blog, em alguma outra história, mas vamos lá
novamente. Comecei a estudar inglês quando tinha onze anos. Os meus pais,
sempre naquele mesmo movimento de fazer o melhor possível pelos seus dois filhos,
colocaram-me, a duras penas, para estudar na Cultura Inglesa. Dos onze aos
quinze anos, estudei na unidade de Santo Amaro, São Paulo. Cultura Inglesa.
Inglês é mais que inglês. É cultura. Foram anos carregando aquela maletinha
branca, esquisita, de material estranho, duas vezes por semana. E quanto laboratório
de “listening” não fiz nesse ínterim? E quantos testes de gramática, de
“speaking” e de “writing” já não fiz? A Cultura era, e deve continuar a ser, uma
ótima escola, bem puxada. Para mim, ela foi excelente. Aliás, se não
mantivermos a Laís na escola, bilíngue, onde está hoje, sem dúvida, pretendo,
em algum momento da vida dela, colocá-la na Cultura. Se ela vai se manter lá,
são outros quinhentos, mas, em podendo, vou fazer a minha parte. Eu, por
exemplo, aguentei a Cultura por cinco anos. Mais velha, voltei para lá, mas
durante a minha adolescência, só a aguentei mesmo por esses cinco anos. Aos
quinze, pedi para a minha mãe me tirar de lá e me colocar no CCI, Centro de
Comunicação Inglesa, que também ficava na Santo Amaro. Eu sempre fui muito bem
resolvida...mas a minha mãe é fora da curva nesse quesito...foi só mencionar a
ela que eu queria mudar de escola de inglês e pronto...no dia seguinte, eu já
estava fora da Cultura e matriculada no outro instituto. Foi assim também com
as minhas aulas de piano...mas isso fica para outro texto. O meu ingresso no
CCI foi bem providencial. Foi lá que eu conheci a professora Gisela
(pronuncia-se Guísela), a minha grande incentivadora para que eu tivesse feito o
intercâmbio cultural, aos dezesseis, para o Arkansas, EUA. E foi assim que
construí o meu conhecimento na língua inglesa: a base sólida, sobretudo a
gramática, na Cultura Inglesa, o speaking intermediário no CCI, o speaking
definitivo em Arkansas e a “profissionalização” também na Cultura, depois de
mais velha. Só um parênteses...quando cheguei a Arkansas e percebi que as
pessoas não falavam, mas latiam, dei graças a Deus por ter estudado em uma
escola cujo inglês era britânico. Com a base que eu já tinha, nas entranhas,
consegui sair de tudo aquilo com um sotaque não tão Forrest Gump...“life is
like a box of chocolate...you never know what you’re gonna get”. Não é que até me entendem quando falo nessa
língua? Mas por que toda essa introdução? Só para registrar que sempre gostei
de estudar inglês, desde muito menina. No final de 1991, quando voltei do meu
intercâmbio, logo quis dar aulas de inglês. Como já tinha trabalhado muito nos
Estados Unidos, pintando cerca de contenção de gado, cortando grama de igreja,
colhendo feno, e tinha tido a experiência de ganhar o meu próprio dinheiro,
quis logo trabalhar quando voltei para o Brasil. O meu primeiro passo foi ir ao
CCI, procurar pela Sra. Gisela e dizer a ela que eu estava pronta para ensinar
inglês para crianças e para o Basic 1. E não é que me contrataram? Foi lá onde
tudo, quase, começou. Quase que me torno professora e sigo a profissão dos meus
pais por causa dessa minha experiência feliz no CCI. E vieram outras.
Lembro-me, ainda estava terminando o 3º colegial e estudando para o vestibular,
quando os meus pais mandaram fazer uma placa – Ensina-se inglês – e a colocaram
no portão de casa. Naquela época, isso ainda não era algo impensável, perigoso.
E olha que morávamos em uma casa na rua...não era em condomínio não. Aliás,
muitos alunos vieram por causa dessa placa. Um deles, talvez um dos mais
queridos, foi o Sr. Antônio Luiz. Ele morava a trezentos metros de casa. Todos
os sábados, das 8h às 11h, lá estávamos nós, “speaking our English”. Era quase que um ritual para a
gente. Eu chegava lá, sentava à mesa da copa, começávamos a falar, em inglês, é
claro. Lá pelas 9h30, vinha o cafezinho, que ele fazia com todo o gosto, e nós
seguíamos assim, só conversando e falando sobre gramática, até às 11h. Pois
bem. De 1991 a 2000, durante quase dez anos, dei aulas de inglês, para níveis
completamente diferentes. E levei essa “profissão”, que até então eu não sabia
se seria a primeira, a segunda ou a definitiva, por todo esse tempo. Eu a levei
tão a sério que tenho um bando de certificados – TOEFL, Oxford, CAE, Proficiency e os certificados de 1 a 5 da London Business School. Ralei muito para
tê-los todos. Como estava inclinada por seguir o rumo dos meus pais, resolvi
investir. Voltei para a Cultura Inglesa em 1992 e recomecei a estudar tudo
outra vez. O meu objetivo era prestar e passar em todas essas provas. Como eu
comecei a trabalhar, em Comércio Exterior, a partir de 1993, passei a fazer as
aulas aos sábados. Sempre muito esforçadinha. Que belezinha. E fui me
inscrevendo, pagando, estudando muito e conseguindo passar nas avaliações.
Sensação boa. O meu inglês, naquele época, tinia. Além de dar as minhas aulas
particulares, eu também dei aula, por quatro anos, no Yázigi. Dava aula lá
depois da jornada de trabalho na Panalpina e na Siemens. Aos sábados também,
depois da aula do Sr. Antônio Luiz. Já malhei muito nessa vida de meu Deus...e
bota muito nisso. Como se não ralasse até hoje. Embora, nesse meio tempo, tenha
feito Administração com Habilitação e em Comércio Exterior e trabalhado no
ramo, de verdade, até os anos 2000, tive dúvida sobre o que, de fato, deveria
fazer da minha vida profissional. Professora ou Administradora? A pressão da
minha mãe para que eu me tornasse uma professora, como ela e meu pai, sempre
foi grande, mas eu não sucumbi. Pode até ser que eu não seja uma professora
hoje por causa dessa não sucumbência. Mas não importa. Na época, menos madura
do que hoje, eu não quis ser vencida por ela...embora, em muitos casos, sei
hoje, ela tenha tido toda a razão do mundo. Mas não se pode sucumbir à pressão
de mãe, né? Em 1997, prestei e passei no Mestrado de Lingüística da PUC de São
Paulo. Fiz todos os créditos, mas acabei não escrevendo a minha dissertação. O
nome dela teria sido: “A Análise do Discurso nas Reuniões Corporativas.” Quase
sou mestre...just almost!!! Quem sabe não retome essa dissertação um dia...com
um enfoque mais psicanalítico? Quem sabe! Depois disso, em 1998, fui passar um
tempo em Boston, fazendo um curso para professores de inglês. Foram quase dois
meses em Massachussets. Perdi aula no Mackenzie e tudo. Vamos lá então. É sobre
as amizades que fiz nessa minha ida para Boston e sobre a decisão sobre a minha
profissão que quero contar nesse texto. Tentei resumir o passo a passo até essa
viagem, mas não me contenho...sou mesmo uma prolixa...sem remendo. Programei a
minha ida para esse curso, que foi feito no FLS Boston Commons, para julho
daquele ano. Fiquei até o final de agosto. O curso consistia no seguinte:
durante esse período, das 9h às 16h, eu assistia a todas as aulas das quatro “English
Skills” – writing, speaking, listening e reading”, e, no final do dia, das 16h
às 19h, os participantes desse meu curso se reuniam, com os professores e
coordenadores, para discutirem o que tinham visto, presenciado, anotado durante
as aulas assistidas no dia. As aulas eram, invariavelmente, para
estrangeiros...de todos os lugares do mundo..., sobretudo para japoneses. O
curso foi muito bom, bem pensado, bem programado, muito bom mesmo. Ainda no
Brasil, durante as negociações de ida com a Friends in the World, resolvi que
ficaria, em Boston, num quarto com mais três pessoas. Essa era uma das
opções...a mais em conta. Eu ficaria em um “dorm.”, dentro da Boston
University, no centro da cidade, que ficava a uns oitocentos metros do FLS. Foi
a melhor opção em termos de valor. É claro que podia ser perigoso...sabe Deus
com quem eu iria dormir durante aqueles dois meses, mas o curso já era
suficientemente caro. E fechei esse pacote. As aulas começaram numa
segunda-feira. Como tenho família em Providence, Rhode Island, resolvi ir para
lá antes, levando a minha avó, mãe da minha mãe, a tira colo, e depois ir para Boston.
Na volta, no final de agosto, peguei a minha nona de volta, na casa do seu
irmão mais novo, o felizardo que saiu de Portugal e foi morar nos Estados
Unidos com a família, e voltei para o Brasil com ela. Aliás, ela não via o tio
Artur, seu irmão mais novo, há mais de vinte anos antes dessa nossa viagem. No
domingo, antes do primeiro dia de aula, o meu tio e o meu primo Rui, primo de
1º grau da minha mãe, de Providence, largaram-me na frente do “dorm.” Lá fui eu
encarar o que estaria por vir. Em lá entrando, na universidade, fiz um tipo de
check-in e logo fui para o meu quarto. Quando abri a porta, vi quatro camas colocadas,
a esmo, num espaço relativamente grande. Sob três dos quatro colchões havia malas.
As pessoas já tinham chegado...não só tinham chegado como também definido onde
eu dormiria. E onde estaria o nosso banheiro? Haveria uma porta secreta para
ele dentro do quarto? Não, não tinha nenhuma porta secreta...ele não estava
dentro do quarto. Fui atrás dele. Abri a porta que dava para um enorme corredor...olhei
pra frente, para a direta e para a esquerda. Ei-lo ali, uma portinha à esquerda
do meu quarto coletivo. Se o quarto já era coletivo, imaginem o banheiro...ou
vocês acham que só tinha o nosso quarto naquele andar? Eram diversos quartos,
asseguro. Aproveitei que não tinha ninguém, nem no meu quarto e nem no
banheiro, e fiz tudo que tinha que fazer. Tirei as minhas roupas da mala e as
coloquei no armário, no espaço que tinha sobrado. Depois de, mais ou menos, uma
hora e meia da minha chegada, resolvi que não queria mais ficar sozinha. Fui
dar uma volta. Pensei em ir andando até a escola, para ver quanto tempo eu
levaria até lá todas as manhãs. E fiz isso. Fui andando até o FLS. Vi que não
seria tão sofrido. O caminho era bem tranqüilo até lá. Depois de uma voltinha
no entorno da escola, voltei para o “dorm.” Quando cheguei lá, notei que
nenhuma das três pessoas tinha voltado para o quarto. Será que elas estavam
juntas, eram do mesmo país, ou era coincidência o fato das três não terem
voltado para lá até aquele horário? Peguei o meu livro e me deitei. Fiquei
lendo, mas com os olhos e ouvidos bem abertos...quase sem conseguir prestar
atenção no que lia. De repente, ouço um barulho na fechadura...uma delas estava
chegando...ou talvez todas juntas? O que estaria eu prestes a presenciar?
Adentram no quarto três mulheres, aparentemente bem normais – segundo a minha
concepção do que é ser normal, é claro. Com certeza estavam juntas, pois agiam
como se já se conhecessem. “Hello!” Disse uma delas para mim. “Hello!” Respondi.
“How are you?” Perguntou a mesma pessoa. “I am
fine and you?” “Fine, thanks.” “Where are you all from?” Soltei. “We are from Brazil, and
you?” “So am I, so am I...thank God.” Brasil…ufa…que bom...estava com medo de
ter que dormir com pessoas de povos diferentes, equisitos. E se, ao invés das
três brasileiras, tivessem aparecido no quarto uma malaia, usando uma mordaça,
uma paquistanesa, vestindo uma burca, e uma japonesa, caracterizada de gueixa? Que
lambança. Como iríamos nos comunicar nós quatro? Mímica talvez. Acho que elas
notaram a minha cara de alívio quando acabei de ter esses pensamentos inóspitos
e, então, todas nós caímos na gargalhada. Ficamos amigas ali, naquele momento. Elas
eram mais velhas do que eu alguns anos. As três eram amigas. Todas casadas, com
filhos. Trabalhavam no Cel Lep de Alphaville, em São Paulo. Foram para lá para
fazerem o mesmo curso que eu. Foi uma baita sorte que eu tive de ter caído em
um quarto com essas três figuras. Elas, praticamente, adotaram-me pelo período
em que estivemos juntas. E lá fomos nós, convivendo, conversando, rindo,
debatendo, fazendo as aulas, discutindo, fazendo compras, divertindo-nos à
beça. Foi um período muito bom, uma experiência ímpar. Nunca mais me esquecerei
daqueles dias. Uma das minhas amigas era da família da Lupo. Não tinha tempo
ruim para ela e nem com ela. Chegavam os finais de semana e lá íamos nós
quatro. Ela alugava um carro e nos levava para fora de Boston, para conhecermos
outros lugares. Visitamos uma série de conhecidos dela e de sua família. Fomos às
casas das pessoas, jantamos em restaurantes geniais, aproveitamos cada
instante. Em um dos finais de semana, resolvemos que iríamos conhecer o local
onde as filmagens do filme “As Bruxas de Eastwick” tinham sido feitas. Fomos,
então, para Eastwick. Passeio incrível. Vale a pena. Pena não termos nos visto
mais. Queria muito reencontrá-las. Voltamos para o Brasil, depois do curso, e
não mantivemos contato. A minha fase de vida era diferente da delas. De
qualquer maneira, sinto muito por não tê-las mais visto. Vou procurar por elas.
Quando voltei para o Brasil, em agosto de 1998, já com mais experiência na “arte”
de ensinar, fui procurar aulas na Cultura Inglesa. Sabia que não seria algo
fácil, mas tentei mesmo assim. Fui conversar com a Lorraine de Matos, na época,
gerente-geral da escola. Contei a ela todo o meu histórico e todo o meu
percurso. Disse que queria muito ser professora da Cultura. Ela acreditou no
que contei, pois me colocou para fazer um milhão de testes, com o intuito de
ver o meu nível, a minha real condição de dar aula lá. Fiz testes e mais
testes. Era como se os meus certificados nunca tivessem valido para nada. E,
para ela, não valiam mesmo. Fui colocada à prova. Mas tudo bem. Continuei com
as minhas duas profissões até junho de 2000. Pena? Não sei bem. Não penso nisso.
Sempre prefiro achar que tomei a decisão certa. Em abril de 2000, comecei a
trabalhar na Siemens. Eu ainda consegui levar os dois trabalhos até junho. Em
junho, enfim, tomei a minha decisão. Não iria seguir a profissão dos meus pais.
Nada de ser professora. Seria administradora mesmo. Em julho desse mesmo ano, a
Lorraine entrou em contato comigo. “Loraine, tudo bem?” “Tudo bem, Lorraine, e
você?” “Estou ótima. Tenho uma notícia maravilhosa para você. Sabe todos
aqueles testes que fez aqui com a gente em 1998? Pois é, você passou neles. Não
entramos em contato com você antes, pois não tínhamos aulas disponíveis para
oferecer, mas agora temos. Estou te ligando para te convidar para ser a mais
nova professora da Unidade de Pinheiros da Cultura Inglesa. O que acha? Ótima notícia,
não?” Teria sido uma ótima notícia...se tivesse sido dada há dois anos. Não
acreditei no que tinha acabado de ouvir. Eu poderia ser, se aceitasse, professora
de inglês de uma das melhores escolas de inglês do Brasil...e tinha conquistado
aquilo por mérito próprio, em função de tudo que tinha estudado e me dedicado.
E agora? O que faria eu? Foram apenas segundos até que eu respondesse. “Lorraine,
essa notícia, de verdade, é maravilhosa. Acho que todo mundo que se dedica,
como eu, um dia, espera ouvir o que você acabou de me dizer. No entanto, vou
ter que recusar. Faz dois meses que tomei a decisão de seguir outra profissão e
é isso que farei. Estou na Siemens desde abril e é por aí que quero seguir.
Obrigada pela oportunidade. Espero que possa voltar a falar com você caso mude
de idéia.” “Nossa, Loraine. Fico feliz por ter decidido, pois sei da sua
história. Mas triste por não vir trabalhar com a gente. Mas as portas estão
abertas. Procure-me caso mude de idéia. Vou torcer por você anyway, chara.” “Thanks,
Lorraine.” E é isso. Decisão tomada, decisão mantida. Só não sei, até agora, se
foi a decisão certa, mas continuo me dedicando à profissão escolhida por mim como
se fosse...kkkkk...Continuo gostando de ensinar, de dar aula. Acho que vou a
forra quando estiver com o meu consultório de psicanálise. O duro é que só vou
poder ouvir...falar, que é bom, vai ter que ficar para a próxima encarnação.
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