A Tia Augusta Turismo me fez ter certeza de que o inferno, realmente, existe!
Notícia de 12 de fevereiro de 2011
FIM DE VIAGEM PARA STELLA BARROS
Dívida de R$ 15 milhões leva
operadora, controlada pelo Citi, à falência. A vovó Stella Barros saiu de cena.
A sua controladora nos Estados Unidos, a Travel YA, ligada ao Citibank, pediu
auto-falência.
A Stella Barros foi fundada em 1965. Na época, a
própria vovó Stella, hoje já falecida, organizava as viagens e guiava os
turistas. Um de seus roteiros preferidos eram os parques temáticos da Disney,
que, no final, tornaram-se o passeio símbolo da empresa. Uma de suas melhores
funcionárias, a Augusta, também especialista em Disney, criou sua própria
agência, a Tia Augusta Turismo. Ela, embora tendo aplicado R$ 2 milhões no seu
negócio em 2011 e com a promessa de investir mais R$ 12 milhões até 2015, deixou,
pelo menos, quarenta de seus clientes nas mãos da sorte na semana de 10 de
setembro de 2012. Entre eles, entre esses mais ou menos quarenta seres azarados,
estávamos nós, os dez integrantes da família do Divino. Vamos aos fatos. Mais
ou menos em fevereiro desse ano, um casal de amigos, a Solange e o Renato,
convidaram-nos, a mim e ao Luiz, para irmos com eles para Orlando. A viagem
deles seria em setembro e já estava quase fechada. Eu logo me animei. Adoro
Orlando. O Luiz também gostou da idéia, mas, na época, não sabia se poderia ir.
Irmos somente nós dois implicaria deixar a Laís, com a minha mãe, no Brasil. A
partir do convite deles, começaram os nossos questionamentos e análises. Como
ir para a Disney sem a Laís? Mas será que ela entenderia alguma coisa se a
levássemos? Levar a nossa filha de três anos para lá não seria uma gastança em
vão, já que ela não iria se lembrar de nada? Foram várias discussões até que
chegássemos à conclusão de que só iríamos se tivéssemos condições de levar a
nossa bela. Resolvemos isso em junho. Contei aos meus pais que nós iríamos e
que levaríamos a Laís a tiracolo. “Nossa, vocês vão mesmo?” “Vamos sim, mãe.”
“Então, eu também vou com vocês.” “Legal, vamos sim. Então, por que não levamos
o Felipe?” O Felipe é o meu sobrinho mais velho. “Boa idéia. Vamos ver com os
pais dele.” Alguns dias se passaram até que tivéssemos a confirmação de que o
Lipe iria com a gente. Foi uma alegria...mas só inicial, pois logo nos demos
conta de que seriam duas crianças, com menos de cinco anos, viajando, dentro de
um avião, por mais de oito horas. A viagem não iria começar dando certo.
Impossível. Mas vamos lá. Eu só precisaria me conscientizar de que, por mais um
ano consecutivo, eu teria férias de corno. Descansar, que é bom, nada. Mas
íamos encarar, pois a alegria deles compensaria o nosso cansaço. Passaram-se
mais alguns dias até que eu recebesse um outro telefonema da minha mãe. “Lô, eu
contei para a Nilce que o Felipe e eu íamos com vocês para a Disney e ela quis
ir também...e vai levar o Frederico.” O Frê é o neto de quatro anos dessa amiga
da minha mãe. “Nossa, que legal, mãe. A viagem será bem divertida, não?” Eu
estava sendo sarcástica com essa colocação. E continuei. “E bem pouco
cansativa!!!” Caramba, como eu iria contar para o Luiz, que é avesso a bagunça
e barulho, que haveria três crianças na viagem dele? Na lata? Ele podia
enfartar. Mas não tinha o que fazer. Eu tinha que contar. “Amore, você não sabe
da maior. A tia Nilce também vai...e vai levar o Frederico, o netinho dela de
quatro anos.” “O que, mais uma criança? Loraine, acho que eu não vou mais. São
muitas pessoas. Cada um vai querer fazer uma coisa. A gente vai pagar um
dinheirão para se apurrinhar. Pensa bem.” “Amore, eu já pensei. Eu vou. Veja se
você quer ir ou se quer ficar no Brasil. Qualquer coisa, eu vou com a minha
mãe.” O pior, até aquele momento, não foi ter contado ao Luiz que seriam três
crianças na viagem...o pior estava por vir. Eu teria que contar para a Sol e
para o Renato que a viagem deles teria mais sete integrantes. Eu ainda não
tinha feito isso. Para fazer, marquei um almoço com eles num domingo, duas semanas
antes da viagem, para garantir que eles não desistiriam. Ao longo da semana,
antes do nosso almoço com o casal, recebi, pela terceira vez, um telefonema da
minha mãe, também sobre a “viagem para a Disney”. “Filha, a Karin, filha da
Nilce, não quer que ela, a Nilce, vá sozinha com o Fred para Orlando. Sendo
assim, o Rodrigo, pai do garoto, também vai com a gente.” “Sério, mãe?” “Nossa,
preciso mesmo contar tudo isso para a Sol. Quer dizer que somos oito numa
viagem que deveria ter, no máximo, quatro pessoas? É isso mesmo?” “É sim,
Loraine. Pode contar para ela, pois é fato...vamos todos com vocês. Não tem
volta.” E o domingo do almoço, finalmente, chegou. “Sol e Renato, precisamos
contar algo a vocês. Vocês já sabiam que a Laís iria com a gente nessa viagem,
né?” “Sabíamos sim, Lô, por quê?” “Pois é, tem mais gente que vai com a gente.”
“Legal, assim é mais animado.” Essa foi a Sol falando...barraqueira tranqueira.
“Então, Sol, seremos, no total, com vocês dois, dez pessoas.” “Dez pessoas?”
“Sim, dez.” “Nós acabamos de alugar uma Suburban, da GM. Do nosso lado, serão
três crianças, com menos de cinco anos cada
uma, e cinco adultos...fora vocês dois.” “Legal, Lô. A viagem vai ser
animada. Fique tranqüila. A gente adora bagunça, você sabe. Vamos amar.” Ela
disse isso porque não vai dormir com todas essas crianças, pensei eu. “Lô,
aliás, nada mais adequado do que o nome desse carro, hein? Essa viagem está
parecendo uma viagem da família Tufão. Seremos dez pessoas. Família do Divino
total. Um carro chamado Suburbano se encaixa no contexto como uma luva, não
acha?” E não é que ela tinha razão. O melhor foi levar tudo na brincadeira e
tocar a vida. No final, tudo seria muito divertido. E os dias foram passando
até que o embarque chegasse. Nossa viagem estava marcada para o dia 9 de
setembro. Os dez iriam no mesmo dia, no mesmo vôo. Combinamos de nos
encontrarmos em Guarulhos. Na sexta, dia 7, fomos até a agência Tia Augusta, do
Shopping Jardim Sul, pegar os nossos vouchers. A Solange e o Renato tinham
fechado a viagem deles lá, bem antes da gente, então, aproveitamos e fechamos a
de todos nós também com a subsidiária da Stella Barros. Na sexta, quando fomos
pegar os vouchers com o vendedor, o Marcelo Abreu, ele nos deu uma notícia
incrível. “Loraine e Luiz, houve um problema com uma das reservas do grupo, de
vocês oito, tirando a Solange e o Renato, e nós tivemos que colocá-los, para
que todos viajassem juntos, na Classe Executiva.” “Sério?” “Sério. Podem
comemorar.” “Mas e o Renato e a Sol?” “Não...eles continuam na Classe
Econômica. Como eles já fecharam a viagem comigo há muito tempo, não tivemos
problemas com o pacote deles, só com o de vocês.” “Nossa, que problema foi esse
que nos causou tanta alegria?” “Você está ciente de que os dois ficarão chateados,
né, Marcelo? Você acabou de arrumar um problema para a Tia Augusta. Enfim, ele
não soube explicar direito o que tinha havido, mas também não nos importava. O
importante é que nós não viajaríamos na Classe Econômica. Ficamos chateados
pela Sol e pelo Renato, mas tocamos a nossa vida. “Leindo, precisamos contar
isso para a Solix. Vamos ligar para ela” “Vamos sim.” Naquela noite, nós os
chamamos no Skype e, obviamente, nós os sacaneamos. “Sol, você não vai
acreditar.” “O que, Lô?” “Nós vamos de Classe Executiva para Orlando.” “Sério?”
“Muito sério.” “Também quero ir nessa Classe, Lô.” “Eu imagino que sim, Sol,
mas não vai dar. Nós até perguntamos sobre vocês para o Marcelo, mas a agência
disse que vocês não teriam condições de se juntar a nós nesse vôo. Essa Classe
é um pouco mais fina, só para gente mais chique, sabe?” “Vai se f..., Lô. Que porra
é essa?” “Kkkkkk...é verdade. Eles nos colocaram na Classe Executiva, pois
fizeram alguma cagada com a nossa reserva. Devem ter deixado de reservar
assento para um de nós e tiveram que colocar todos na mesma classe, pois a Classe
Econômica já devia estar cheia. Caso contrário, um de nós, ou mais de um de nós,
não embarcaria no domingo.” “Sério? Vocês são muito rabudos.” “É a nossa
estrela, Sol, não tem jeito...quem tem estrela, tem estrela.” Eles ficaram
putos, mas engoliram seco. Também queriam aquela vantagem, já que tinham
indicado mais oito cabeças para a agência da tal Augusta. Pensando bem, no
mínimo, os súditos da Tia deveriam ter colocado os dez na mesma Classe. Aliás,
nem é necessário pensar bem sobre isso para se chegar a essa conclusão. É tão
óbvio. Começaram errando logo de saída. Mas enquanto tudo cheirava a bolo, não
paramos para pensar nisso, na atitude equivocada da agência. Porém, saímos do
Brasil com duas pessoas frustradas. E olhem que nem imaginávamos o que estava
por vir. No entanto, afirmo, o fato de termos ido, os oito, de Classe Executiva
amenizou a sensação ruim que tivemos com os problemas que aconteceram a partir
do dia 10 de setembro. Já a Solange e o Renato, como já estavam possuídos por
não terem ido com a gente lá na frente, sofrerem e se zangaram mais do que a
gente. Tudo erro da operação da agência. Não basta investir dinheiro no negócio
se ele não for investido no lugar certo. Se a empresa não investir em
treinamento, em parcerias de sucesso, em salário do personnel, entre outras
coisas básicas, está fadada ao insucesso. Isso é básico. O coitado do nosso
vendedor, o Marcelo, super boa gente, tentou fazer de tudo para nos agradar,
mas havia coisas que fugiam da sua alçada...ou ossada, como diria a Malu
Castro. O fato é que ele deveria ter mais competência, mais jurisdição, já que
está na linha de frente. Esse é um equívoco corriqueiro das empresas. Quem tem
o poder de decisão está bem longe, mas muito longe mesmo do cliente. O cara da
linha de frente se ferra, pois tem que dar conta do cliente e do, no geral, infeliz
do chefe. Bom, chegou o dia do embarque. Todos a postos em Guarulhos. Nem
preciso contar que nós, da Classe Executiva, pegamos uma fila VIP para fazer o
embarque, né? Aliás, não pegamos fila. A Sol e o Renato, por sua vez, chegaram
cinco horas antes no aeroporto, só para tentarem sentar na saída de
emergência...e nem assim conseguiram. Rimos muito com tudo isso, mas que não
estava certo, não estava. Eu também não preciso contar que fomos a segunda leva
a entrar no avião, somente depois da Primeira Classe. Entramos, acomodamos-nos,
os adultos e as crianças, começamos a tomar champagne, água, suco,
ajeitamos-nos nas mega cadeiras e ficamos lá, olhando para a cara dos pobres
coitados que se dirigiam, um a um, para a Classe Econômica...e o pior, tendo
que passar por nós. Quanto constrangimento. Eles, com certeza, em muito pouco
tempo, estariam esmagados entre os parcos espaços deixados entre uma poltrona e
outra lá da Classe Econômica. Que judiação. Entre os pobres diabos estavam os
nossos magoados, e com razão, amigos. Mesmo sabendo sobre a tristeza deles, foi
mais forte do que nós, não pudemos deixar de sacaneá-los mais uma vez. Assim
que eles passaram por nós, oferecemos um gole do nosso “bubbling wine”. “Seus
putos!!!” E foram lá para a rabeira. Coitados. Nós oito, ficamos fazendo hora
na Executiva. A Laís se sentou ao meu lado. O Luiz, sortudo, estava sozinho no
corredor. Ninguém ao seu lado. Dava até para dar uma deitadinha...não tivesse
ele a altura que tem. A minha mãe foi ao lado do Felipe. A tia Nilce se sentou
com o Fred. E assim nos organizamos, até a decolagem da aeronave rumo à Flórida.
O nosso vôo era diurno. Para que as crianças não dormissem a viagem toda, já
que chegaríamos à noite, tínhamos que entretê-los. O primeiro passo foi colocarmos
filmes e desenhos, para que assistissem. Começamos a viagem fazendo sucesso
entre os kids. A tela da TV saia de dentro do braço da poltrona deles. Uma
festa. Quer coisa mais inusitada para eles? “Nossa, mãe, que máximo.” Tudo é o
máximo para a Lála nos últimos tempos. Isso não poderia deixar de ser. Ela se
encantou com toda aquela parafernalha. E quando a aeromoça nos trouxe os fones
de ouvido? O das crianças era menor, mais transado, todo colorido. A Laís ficou
doida com aquilo tudo. Aliás, quando percebi que ela estava ficando muito
encantada com tudo que estava rolando, comecei a me preocupar. Tinha que dar um
choque de realidade nela. Aquilo não seria algo corriqueiro. Viajar não será
algo do dia a dia para ela, muito menos naquela Classe. Estávamos, sentados lá
por uma circunstância positiva das nossas vidas. No entanto, aquela não era a
nossa realidade. Mesmo que pudéssemos, em todas as nossas viagens, viajar de
Executiva, nós três, tenho a convicção de que não faríamos isso...em se
tratando do marido Luiz que tenho e do pai Luiz que a Laís tem...é ruim da
gente ir de Executiva para qualquer lugar, viu? Muito ruim. Só tendo muita
sorte...ou estrela, mas não cadente! “Lála, olha só, presta atenção na
mamãe...tá vendo tudo isso aqui?” “Isso o que, mamãe?” “Esse ambiente, essas
poltronas grandes, esse espaço enorme entre elas, esse travesseiro cheiroso,
esse cobertor, os nossos fones de ouvido, o seu suco de laranja, o meu
champagne, o papai feliz por estar aqui sem ter que ter pago nada a mais por
isso, o tratamento que estão nos dando, etc?” “Sei.” “Pois bem, Laís, nada
disso é real...não faz parte da nossa realidade.” “Mãe, o que é realidade?”
“Realidade, filha?” “É, mãe.” “Realidade é tudo que você não está vendo e vivendo
aqui, entendeu, Lála?” “Não.” É claro que ela não tinha entendido nada. Quem
disse que eu consegui explicar. Inevitavelmente, eu precisaria de algo mais
concreto para mostrar a ela a diferença entre o que ela estava vivendo e a
nossa verdadeira realidade. Pensei no que fazer...até que me veio uma idéia. E
se eu a levasse para dar uma olhada na Classe Econômica? Era tudo tão diferente
que ela entenderia o que eu estava tentando explicar. E lá fomos nós. Tínhamos
acabado de almoçar. Uma delícia de comida, que foi escolhida, individualmente,
no menu entregue a nós quando o avião ainda estava no chão. Nos esfalfamos de
comer. Foi como se estivéssemos almoçando em um restaurante...talheres de
verdade, nada de plástico, copos de vidro, taças de cristal, enfim, finíssimo.
Nós duas nos levantamos e fomos em direção à classe menos favorecida. Separando
os dois mundos, a Coreia do Sul e a Coreia do Norte, estava uma cortina bege
escura, quase marrom, inteiramente fechada, para que os países não entrassem em
conflito. Não teve jeito. Para que cruzássemos a fronteira, tive que abrir a
mantilha. Meu Deus, pensei na hora em que a abri...o inferno, realmente,
existe. O inferno nada mais é do que a Classe Econômicas dos aviões. Pronto. O
conceito estava fechado. Era aquilo mesmo. Que visão do inferno. A cara das
pessoas, para quem abre a cortina separatista e olha de frente para aqueles
seres, é um horror. Eles, os seres humanos de lá, estão, nitidamente, em sofrimento.
Não há nada de bom em estar ali. Só fica bom quando se sai dali. Credo. Essa é
a cara que fazemos quando viajamos desse lado? Que aperto. Não há espaço para
uma agulha. Os nossos semelhantes estavam almoçando. Nós decidimos fazer o
passeio, exatamente, no momento em que os flight atendants estavam servindo a
comida do “povo”. Impossível transitar no corredor do avião quando os garçons
aéreos estão servindo o rango. Sem chance. Mas eu dei um jeito de levar a Lála
até a Sol e o Renato. Eu precisava fazer com que ela visse toda aquela cena.
Pedi licença para os garçons e garçonetes que, embora tenham ficado
perceptivelmente putos, deixaram-nos passar. Finalmente, chegamos até eles.
Para a minha sorte, a Laís quis ficar lá um pouco. Sentou no colo da Sol, com
muita dificuldade, por causa do pouco espaço entre uma poltrona e outra, e lá
quis ficar. Eu, por minha vez, dei um oi para eles e fui embora, atrapalhando,
novamente, os aeromoços e moças. Voltei correndo para a minha day dreaming
Class. Rs. Dez minutos depois, não mais do que isso, quem surge de volta na
Executiva? A Laís. O Renato a trouxe para a gente. “Lô, ela quis voltar, pois
disse que lá era muito apertado.” “Sério?” “Verdade.” “Ela não quis ficar no
colo da Sol, pois não conseguia mexer suas pernas. Ficou meio irritada.”
“Perfeito, Renato. Agora, tenho o material que preciso para explicar a situação
para a Lála. Valeu, Rê.” “Não entendi nada, Loraine, mas vá com fé. A filha é
sua.” “Filha, você não quis ficar lá com a tia Sol?” “Não.” “Por que?” “Porque
é muito chato.” “Chato, como assim chato?” “É muito apertado, mamãe.” “Pois é,
Lála. Mas quando a gente voltar para o Brasil, a gente vai sentar lá atrás,
onde a tia Sol e o tio Renato estão sentados agora.” “Ah, não, lá não é bom, mamãe.”
“Eu sei, Laís, mas é lá que vamos sentar. Aliás, é lá que estaríamos sentados
agora...se não tivéssemos tido muita sorte.” “Sorte, mãe. O que é sorte?”
“Sorte é isso, Lalinha, é ir para Orlando na Classe Executiva.” “Classe
Executiva?” “Laís, chega de perguntas, vai. Vamos descansar um pouco. Eu só
quero que você se lembre de que a nossa realidade é o que você viu lá na tia
Sol, tá?” “Tá.” Rs. É obvio que ela não tinha entendido quase nada, mas a
mensagem tinha sido passada. No dia da volta, eu só relembraria esse nosso bate-papo.
Tudo seria muito mais fácil. Será? O nosso voo foi muito tranquilo. Pousamos em
Orlando, exatamente, no horário programado. Todos nós, os dez, passamos pela
alfândega tranquilamente e seguimos rumo ao Car Rental. Já estava tarde.
Tínhamos que pegar o nosso carro para seguir com as crianças para o hotel. No
balcão da Hertz, durante a conversa com a atendente, vimos que a Tia Augusta
tinha feito um erro. O carro não estava alugado. Algo tinha acontecido. O carro
estava reservado, estava até no estacionamento, mas não constava que tínhamos
pago por ele. Isso porque começamos a pagar a viagem em julho. Mas tudo bem,
não quisemos nos estressar com aquilo. Passamos o número do nosso cartão de
crédito para a pessoa e, finalmente, pegamos a Suburban. Depois lutaríamos pelo
reembolso aqui no Brasil. O segundo erro da agência tinha acabado de vir à
tona. O primeiro foi não terem colocados os dez na mesma Classe. Fomos em
direção ao hotel. Antes de chegarmos nele, ainda demos uma paradinha no
McDonald's, para comprarmos um Happy Meal para a criançada. E seguimos para o
nosso quarto na casa do Mickey, como disse a Laís a viagem toda. Ela achava que
a Disney inteira era a casa do Mickey e que o nosso hotel era o nosso quarto
dentro da casa. Mente fértil a da Laís. Bota fértil nisso. Dormimos, muito mal,
aquela noite, ansiosos para o dia seguinte, que era um free day...instituído
por nós. Tínhamos combinado de nos encontrar no saguão do hotel, até para que
pegássemos os vouchers dos parques na recepção. Terceiro erro veio logo depois.
Fomos pegar os vouchers e nada. Não tinham chegado ainda. Era cedo, então, pode
ser que ainda fossem chegar. Resolvemos sair, para ir tomar café da manhã no
Pão Gostoso Bakery. Mais tarde, voltaríamos e pegaríamos os vouchers para que
começássemos a saga e peregrinação pelos Parques no dia seguinte. Doce ilusão.
Ficamos o dia todo fora. Quando chegamos no hotel e fomos verificar se eles já
tinham chegado...surpresa. Nada de vouchers. Como assim? Nós tínhamos que ter o
voucher para irmos ao Magic Kingdom no dia 11. Era o dia da transformação da
Laís em princesa na Bibbidi Bobbidi Boutique, no castelo da Cynderela. E agora?
Fomos dormir, todos com uma pulga atrás da orelha, mas fomos. Quem sabe, quando
acordássemos, os tickets não estariam lá, esperando por nós. Doce ilusão.
Acordamos e fomos checar. Nada. Nem sinal. Mas eu não deixaria de ir aquele
parque por nada no mundo naquele dia. Resolvi que eu pagaria tudo outra vez.
Depois, veríamos o que faríamos com a maledeta da Tia Augusta. E acabei
comprando ingresso para os dez, tudo no meu cartão. Mas pelo menos não perdemos
o dia. Durante o dia todo, ligamos para o Marcelo Abreu, até que conseguimos
falar com ele. Ele já sabia de toda a história e já tinha acionado seu
departamento de operações para que sanassem o nosso problema. Mas, naquela
altura, já estávamos desgostosos...o encanto tinha ido para o brejo. Ele nos
prometeu que os vouchers para os demais Parques estariam com a gente no dia
seguinte pela manhã. Nós nem acreditávamos mais no que eles diziam. Em uma das
nossas idas e vindas do saguão, encontramos outras pessoas, outros brasileiros,
que tiverem o mesmo problema, ou problemas semelhantes, com a mesma agência.
Uma das pessoas nos disse que umas quarenta pessoas, que tinham viajado pela
Augusta, estavam com problemas do tipo do nosso...se não eram os vouchers, era
o próprio hotel, o carro, o café da manhã com os personagens, etc. São mais de
35 anos de estrada...o mínimo que não podem fazer é deixar seus clientes na
mão. Mas deixaram, um bando de gente por sinal. E fora o parto, depois que
voltamos para o Brasil, que foi receber o dinheiro deles referente ao valor que
paguei nos tickets do Magic Kingdom. Eles só resolveram nos pagar depois que eu
os ameacei por e-mail. Ultrajante. Agora, a luta é pelo reembolso do valor do
carro. A fatura do cartão já chegou. Um e-mail, com uma cópia dela, já foi
encaminhado para o Marcelo e nada ainda. Vai ser outro parto. Mas nós vamos até
o fim. É como escrevi lá no começo e reescrevo aqui: embora tendo aplicado R$ 2
milhões no seu negócio em 2011 e com a promessa de investir mais R$ 12 milhões
até 2015, a Tia Augusta deixou a desejar não só nos problemas que foi nos
causando ao longo da nossa viajem, mas, principalmente, na resolução deles. Com
certeza ela é aquele o tipo de empresa que ainda resiste ao pós-vendas, que
acha que uma venda bem feita encanta o cliente e o mantém fiel. Que fraquinhos.
A importância de um trabalho de pós-vendas bem feito é inquestionável. Não se
pode errar com nenhum cliente. E foram errar logo com quem foi para a Disney, que
além de ter uma habilidade de encantar enorme, é a especialidade da casa deles.
Um horror. Sendo assim, fica aqui a dica. Viagem para a Disney...só se a
Augusta não for junto. E só para tirar a curiosidade dos mirones...é claro...voltamos
para o Brasil no inferno...ops...na Classe Econômica. Embora a Laís não tenha
entendido direito o porque de termos ido parar lá atrás, ela encarou a viagem
numa boa, como se nunca tivesse viajado em outra Classe. A minha linda foi
ótima. A grande desastrada fui eu, que derrubei vinho, leite e coca em cima de
nós duas durante toda a viagem. Teria eu feito isso por conta da resistência ao
inferno ou em função do pouco espaço entre as poltronas? Fica aí a grande
questão?
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